Rasga esta máscara ótima de seda
E atira-a à arca ancestral dos palimpsestos...
É noite, e, à noite, a escândalos e incestos
É natural que o instinto humano aceda!
Sem que te arranquem da garganta queda
A interjeição danada dos protestos,
Hás de engolir, igual a um porco, os restos
Duma comida horrivelmente azeda!
A sucessão de hebdômadas medonhas
Reduzirá os mundos que tu sonhas
Ao microcosmos do ovo primitivo...
E tu mesmo, após a árdua e atra refrega,
Terá somente uma vontade cega
E uma tendência obscura de ser vivo!
Augusto dos Anjos
sábado, 31 de janeiro de 2009
A um Mascarado
quinta-feira, 29 de janeiro de 2009
Augusto dos Anjos (1884 - 1914)
Foi um poeta brasileiro, identificado muitas vezes como simbolista ou parnasiano. Muitos críticos, concordam em situá-lo como pré-moderno. É conhecido como um dos poetas mais críticos do seu tempo, e até hoje sua obra é admirada tanto por leigos como por críticos literários.
Foi educado nas primeiras letras pelo pai e estudou no Liceu Paraibano, onde viria a ser professor em 1908. Precoce poeta brasileiro, compôs os primeiros versos aos 7 anos de idade. Em 1903, ingressou no curso de Direito na Faculdade de Direito do Recife, bacharelando-se em 1907. Em 1910 casa-se com Ester Filiado.
Dedicou-se ao magistério, transferindo-se para o Rio de Janeiro, onde foi professor em vários estabelecimentos de ensino. Faleceu aos 30 anos, em Leopoldina, Minas Gerais, onde era director de um grupo escolar.
Durante sua vida, publicou vários poemas em periódicos, o primeiro, Saudade, em 1900. Em 1912, publicou seu livro único de poemas, Eu. Após sua morte, seu amigo Órris Soares organizaria uma edição chamada Eu e Outras Poesias, incluindo poemas até então não publicados pelo autor. Um personagem constante nos seus poemas é um pé de tamarindo que ainda hoje existe em Engenho Pau d'Arco.
O seu amigo Órris Soares conta que Augusto dos Anjos costumava compor "de cabeça", enquanto gesticulava e pronunciava os versos de forma excêntrica, e só depois transcrevia o poema para o papel. De acordo com Eudes Barros, quando morava no Rio de Janeiro com a irmã, Augusto dos Anjos costumava compor no quintal da casa, em voz alta, o que fazia sua irmã pensar que era doido.
quarta-feira, 28 de janeiro de 2009
És pedra
És pedra, altiva e senhora de ti,
Um alto rochedo, de frios sentimentos,
Em pé suportas todos os maus momentos,
Ao teu lado parece que não existi.
És rocha, muito dura e impenetrável,
Imóvel, observas-me daí com exaustão,
Eterna vives nessa grande solidão,
Ergues-te esguia, de forma inigualável.
Desgastas-te enganando a solidez,
A alma escondes na tua beleza,
Observas paciente o vaivém do mar.
Venero daqui essa tua robustez,
Sofro ao esbarrar nessa fortaleza,
Afasto-me para não mais me magoar.
2009 Vasco de Sousa
Os direitos da imagem pertencem ao seu autor.
O original pode ser encontrado aqui.
terça-feira, 27 de janeiro de 2009
Ariana
Ela é o tipo perfeito da ariana,
Branca, nevada, púbere, mimosa,
A carne exuberante e capitosa
Trescala a essência que de si dimana.
As níveas pomas do candor da rosa,
Rendilhando-lhe o colo de sultana,
Emergem da camisa cetinosa
Entre as rendas sutis de filigrana.
Dorme talvez. Em flácido abandono
Lembra formosa no seu casto sono
A languidez dormente da indiana,
Enquanto o amante pálido, a seu lado
Medita, a fronte triste, o olhar velado
No Mistério da Carne Soberana
Augusto dos Anjos
Amor e Crença
E sê bendita!
H. Sienkiewicz
Sabes que é Deus?! Esse infinito e santo
Ser que preside e rege os outros seres,
Que os encantos e a força dos poderes
Reúne tudo em si, num só encanto?
Esse mistério eterno e sacrossanto,
Essa sublime adoração do crente,
Esse manto de amor doce e clemente
Que lava as dores e que enxuga o pranto?!
Ah! Se queres saber a sua grandeza,
Estende o teu olhar à Natureza,
Fita a cúp'la do Céu santa e infinita!
Deus é o templo do Bem. Na altura Imensa,
O amor é a hóstia que bendiz a Crença,
ama, pois, crê em Deus, e... sê bendita!
Augusto dos Anjos
segunda-feira, 26 de janeiro de 2009
Vozes da morte
Agora, sim! Vamos morrer, reunidos,
Tamarindo de minha desventura,
Tu, com o envelhecimento da nervura,
Eu, com o envelhecimento dos tecidos!
Ah! Esta noite é a noite dos Vencidos!
E a podridão, meu velho! E essa futura
Ultrafatalidade de ossatura,
A que nos acharemos reduzidos!
Não morrerão, porém, tuas sementes!
E assim, para o Futuro, em diferentes
Florestas, vales, selvas, glebas, trilhos,
Na multiplicidade dos teus ramos,
Pelo muito que em vida nos amamos,
Depois da morte inda teremos filhos!
Augusto dos Anjos
Machado de Assis (1839 - 1908)
Machado de Assis, canhoto, era um jovem de saúde frágil, epiléptico e gago. Ficou órfão de mãe muito cedo e também perdeu a irmã mais nova. Não frequentou a escola regular, mas, em 1851, com a morte do pai, a sua madrasta Maria Inês, à época morando no bairro em São Cristóvão, emprega-se como doceira num colégio do bairro, e Machadinho, como era chamado, torna-se vendedor de doces. No colégio tem contacto com professores e alunos é provável que tenha assistido às aulas enquanto não estava trabalhando.
Mesmo sem ter acesso a cursos regulares, empenhou-se em aprender tornando-se um dos maiores intelectuais do país, ainda muito jovem. Em São Cristóvão, conheceu a senhora Madamme Gallot, francesa e proprietária de uma padaria, cujo forneiro lhe deu as primeiras lições de francês, que Machado acabou por falar fluentemente. Também aprendeu inglês, chegando a traduzir poemas deste idioma, e posteriormente estudou alemão, sempre como autodidacta.
Foi poeta, romancista, dramaturgo, contista, jornalista e teatrólogo brasileiro, considerado como o maior nome da literatura brasileira, de forma maioritária entre os estudiosos da área. A sua extensa obra é composta por nove romances e nove peças teatrais, 200 contos, cinco colectâneas de poemas e sonetos, e mais de 600 crónicas. Machado de Assis assumiu cargos públicos ao longo de toda sua vida, passando pelo Ministério da Indústria, Viação e Obras Públicas, pelo Ministério do Comércio e pelo Ministério das Obras Públicas.
A obra ficcional de Machado de Assis tendia para o Romantismo na sua primeira fase, mas converteu-se em Realismo na segunda, na qual a sua vocação literária obteve a oportunidade de realizar a primeira narrativa fantástica e o primeiro romance realista brasileiro em Memórias Póstumas de Brás Cubas. Ainda na segunda fase, Machado produziu obras que mais tarde o colocariam como especialista na literatura em primeira pessoa (como em Dom Casmurro, onde o narrador da obra também é o seu protagonista). Como jornalista, além de repórter, utilizava os periódicos para a publicação de crónicas, nas quais demonstrava a sua visão social, comentando e criticando os costumes da sociedade da época, como também antevendo as mutações tecnológicas que aconteceriam no século XX, tornando-se uma das personalidades que mais popularizou o género no país.
Texto adaptado de um artigo da wikipédia.
domingo, 25 de janeiro de 2009
Gregório de Matos (1636 - 1696)
Publica os teus sonetos
Boas poesias.
Vasco de Sousa.
sábado, 24 de janeiro de 2009
Análise de sonetos famosos
Devo acrescentar que não sou o responsável pelas análises efectuadas, e que me limitarei a recolher essa informação, atribuíndo os créditos a quem de direito.
Estas análises têm um fim meramente educativo, para que os leitores melhor possam compreender a poesia, no entanto, se algum dos autores não desejar que essa análise se encontre aqui publicada, basta deixar um comentário neste tópico, que eu a retirarei.
Boas poesias.
Vasco de Sousa
quinta-feira, 22 de janeiro de 2009
William Shakespeare (1564 - 1616)
Produziu suas obras mais famosas entre 1590 e 1613.
Ainda fica incerto se estes números todos representam pessoas reais, ou se abordam a vida particular de Shakespeare, embora Wordsworth acredite que os sonetos abriram suas emoções.
Os críticos elogiam os sonetos e comentam que são uma profunda meditação sobre a natureza do amor, a paixão sexual, a procriação, a morte e o tempo.
quarta-feira, 21 de janeiro de 2009
Revolta
Certos dias em que a revolta me possui,
Num mundo, que ao contrário está virado,
Um louco Homem, pouco são e tresloucado,
Para mim a energia negativa flui.
Gostaria de fugir lá bem para longe,
Para um lugar que fosse só e apenas meu,
Tal como se esconde no convento o monge,
Longe deste falso e cínico apogeu.
Apetece-me gritar ! De raiva espumar !
Feroz lutar, contra toda a injustiça,
Para dignificar esta sociedade !
Com a podridão dessa alta classe acabar,
Derrubar com ardor a verdade postiça,
Estamos perdidos, em grande insanidade…
2009 Vasco de Sousa
terça-feira, 20 de janeiro de 2009
Sonetos de Florbela Espanca (1894 - 1930)
Foi uma poetisa portuguesa, natural de Vila Viçosa (Alentejo), onde nasceu em 1894, filha ilegítima de João Maria Espanca e de Antónia da Conceição Lobo, sua empregada como criada de servir (como se dizia na época).
Morreu com apenas 36 anos, no dia do seu aniversário, a 8 de Dezembro de 1930. Tendo a sua mãe falecido em 1908, e apesar de registada como filha de pai incógnito, foi educada pelo pai e pela madrasta, Mariana Espanca, em Vila Viçosa, tal como seu irmão de sangue, Apeles Espanca, nascido em 1897 e registado da mesma maneira.
?
?!
À Guerra
À janela de Garcia de Resende
À morte
Às mães de Portugal
Árvores do Alentejo
A Anto !
A esta hora ...
A flor do sonho
Escuta...
O espectro
segunda-feira, 19 de janeiro de 2009
Sonetos de Luís Vaz de Camões (1524 - 1580)
Depois Camões fixa-se em Goa onde escreveu grande parte da sua obra épica. Considerou a cidade como uma madrasta de todos os homens honestos. Lá estudou os costumes de cristãos e hindus, e a geografia e a história locais. Toma parte em mais expedições militares.
Em 1556 parte para Macau, onde continuou os seus escritos. Vive numa célebre gruta com o seu nome e por aí terá escrito boa parte d'Os Lusíadas. Naufragou na foz do rio Mekong, onde conservou de forma heróica o manuscrito de Os Lusíadas então já adiantados (cf. Lus., X, 128). No naufrágio teria morrido a sua companheira chinesa Dinamene, celebrada em série de sonetos. É possível que datem igualmente dessa época ou tenham nascido dessa dolorosa experiência as redondilhas Sôbolos rios.
Regressa a Goa antes de Agosto de 1560 e pede a protecção do Vice-rei D. Constantino de Bragança num longo poema em oitavas. Aprisionado por dívidas, dirige súplicas em verso ao novo Vice-rei, D. Francisco Coutinho, Conde do Redondo, para ser liberto. Em 1568, vem para a ilha de Moçambique, onde, passados dois anos, Diogo do Couto o encontrou, como relata na sua obra, acrescentando que o poeta estava "tão pobre que vivia de amigos". (Década 8.ª da Ásia). Trabalhava então na revisão de Os Lusíadas e na composição de "um Parnaso de Luís de Camões, com poesia, filosofia e outras ciências", obra roubada. Diogo do Couto pagou-lhe o resto da viagem até Lisboa, onde Camões aportou em 1570.
Links de interesse:
Os Lusíadas - Análise - Texto integral
A chaga que, Senhora, me fizestes
A D. Leonis Pereira
A D. Luís de Ataíde, Viso-Rei
A D. Simão da Silveira
A fermosura desta fresca serra
À morte de D. António de Noronha
A Morte, que da vida o nó desata
À romana Populónia perguntava
À sepultura de D. Fernando de Castro
À sepultura del-Rei D. João III
A ti, Senhor, a quem as sacras Musas
A violeta mais bela que amanhece
Ah! imiga cruel, que apartamento
Ah, Fortuna cruel! Ah, duros Fados
Ah, minha Dinamene assi deixaste
Alegres campos, verdes arvoredos
Alma gentil, que à firme Eternidade
Alma minha gentil, que te partiste
Amor é fogo que arde sem se ver
Amor, co a esperança já perdida
Amor, que o gesto humano n' alma escreve
Apartava-se Nise de Montano
Apolo e as nove Musas, discantando
Aquela fera humana que enriquece
Aquela que, de pura castidade
Aquela triste e leda madrugada
Aqueles claros olhos que chorando
Bem sei, Amor, que é certo o que receio
Busque Amor novas artes, novo engenho
Cá nesta Babilónia, donde mana
Cantando estava um dia bem seguro
Cara minha inimiga, em cuja mão
Chorai, Ninfas, os fados poderosos
Coitado, que em um tempo choro e rio
Com grandes esperanças já cantei
Com que voz chorarei meu triste fado
Com voz desordenada, sem sentido
Como fizeste, Pórcia, tal ferida?
Como podes, ó cego pecador
Como quando do mar tempestuoso
Contente vivi já, vendo-me isento
Conversação doméstica afeiçoa
Correm turvas as águas deste rio
Crecei, desejo meu, pois que a Ventura
Criou a Natureza damas belas
Dai-me üa lei, Senhora, de querer-vos
De frescas belvederes rodeadas
De quantas graças tinha, a Natureza
De tão divino acento e voz humana
De vós me aparto, ó vida! Em tal mudança
Debaixo desta pedra sepultada
Dece do Céu imenso, Deus benino
Deixando o doce fato e a cabana
Descalça vai para a fonte
Descalço e sem chapéu Apolo louro
Despois que quis Amor que eu só passasse
Despois que viu Cibele o corpo humano
Diana prateada, esclarecia
Ditosas almas, que ambas juntamente
Ditoso seja aquele que somente
Diversos dões reparte o Céu benino
Dizei, Senhora, da Beleza ideia
Doce contentamento já passado
Doce sonho, suave e soberano
Doces e claras águas do Mondego
Doces lembranças da passada glória
Dos Céus à terra dece a mor beleza
Dos ilustres antigos que deixaram
El vaso reluciente y cristalino
Em fermosa Leteia se confia
Em prisões baixas fui um tempo atado
Em um batel que com doce meneio
Endechas, a Bárbara escrava
En una selva al despuntar del dia
Enquanto Febo os montes acendia
Enquanto quis Fortuna que tivesse
Erros meus, má fortuna, amor ardente
Esforço grande, igual ao pensamento
Está o lascivo e doce passarinho
Está-se a Primavera trasladando
Este amor que vos tenho, limpo e puro
Eu cantarei de amor tão docemente
Eu cantei já, e agora vou chorando
Eu vivia de lágrimas isento
Ferido sem ter cura perecia
Fermosos olhos que na idade nossa
Fiou-se o coração, de muito isento
Foi já um tempo doce cousa amar
Fortuna em mi guardando seu direito
Grão tempo há já que soube da Ventura
Ilustre e dino ramo dos Meneses
Indo o triste pastor todo embebido
Já a saudosa Aurora destoucava
Já claro vejo bem, já bem conheço
Já não sinto, Senhora, os desenganos
Já tempo foi que meus olhos folgavam
Julga-me a gente toda por perdido
Leda serenidade deleitosa
Lembranças saudosas, se cuidais
Lembranças, que lembrais meu bem passado
Lindo e sutil trançado, que ficaste
Males, que contra mi vos conjurastes
Memória de meu bem, cortado em flores
Memórias ofendidas que um só dia
Moradoras gentis e delicadas
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades
Na desesperação já repousava
Na metade do Céu subido ardia
Na ribeira do Eufrates assentado
Náiades, vós, que os rios habitais
Não passes, caminhante! Quem me chama?
Não vás ao monte, Nise, com teu gado
Nem o tremendo estrépito da guerra
No mundo quis um tempo que se achasse
No mundo, poucos anos e cansados
No tempo que de Amor viver soía
Nos braços de um Silvano adormecendo
Num bosque que das Ninfas se habitava
Num jardim adornado de verdura
Num tão alto lugar, de tanto preço
Nunca em amor danou o atrevimento
O céu, a terra, o vento sossegado
O cisne, quando sente ser chegada
O culto divinal se celebrava
O dia em que eu nasci, morra e pereça
O filho de Latona esclarecido
O fogo que na branda cera ardia
Ó gloriosa cruz, ó vitorioso
O raio cristalino se estendia
O tempo acaba o ano, o mês e a hora
Oh! quão caro me custa o entender-te
Oh, como se me alonga, de ano em ano
Olhos fermosos, em quem quis Natura
Ondados fios de ouro reluzente
Onde acharei lugar tão apartado
Onde mereci eu tal pensamento
Orfeu enamorado que tañía
Ornou mui raro esforço ao grande Atlante
Os reinos e os impérios poderosos
Os vestidos Elisa revolvia
Para se namorar do que criou
Passo por meus trabalhos tão isento
Pede o desejo, Dama, que vos veja
Pelos extremos raros que mostrou
Pensamentos, que agora novamente
Pois meus olhos não cansam de chorar
Por cima destas águas, forte e firme
Por sua Ninfa, Céfalo deixava
Porque a tamanhas penas se oferece
Porque quereis, Senhora, que ofereça
Posto me tem fortuna em tal estado
Presença bela, angélica figura
Pues lágrimas tratáis, mis ojos tristes
Qual tem a borboleta por costume
Quando a suprema dor muito me aperta
Quando cuido no tempo que, contente
Quando da bela vista e doce riso
Quando de minhas mágoas a comprida
Quando me quer enganar
Quando o Sol encoberto vai mostrando
Quando se vir com água o fogo arder
Quando vejo que meu destino ordena
Quando, Senhora, quis Amor que amasse
Quanta incerta esperança, quanto engano!
Quantas vezes do fuso se esquecia
Que gritos são os que ouço? – De tristeza
Que levas, cruel Morte? Um claro dia
Que me quereis, perpétuas saudades?
Que modo tão sutil da Natureza
Que pode já fazer minha ventura
Que poderei do mundo já querer
Quem diz que Amor é falso ou enganoso
Quem fosse acompanhando juntamente
Quem pode livre ser, gentil Senhora
Quem presumir, Senhora, de louvar-vos
Quem pudera julgar de vós, Senhora
Quem quiser ver d' Amor üa excelência
Quem vê, Senhora, claro e manifesto
Quem vos levou de mi, saudoso estado
Razão é já que minha confiança
Se a Fortuna inquieta e mal olhada
Se a ninguém tratais com desamor
Se algüa hora em vós a piedade
Se as penas com que Amor tão mal me trata
Se com desprezos, Ninfa, te parece
Se cuidasse que nesse peito isento
Se de vosso fermoso e lindo gesto
Se em mi, ó Alma, vive mais lembrança
Se lágrimas choradas de verdade
Se me vem tanta glória só de olhar-te
Se os capitães antigos colocados
Se pena por amar-vos se merece
Se tanta pena tenho merecida
Se tomar minha pena em penitência
Se, despois de esperança tão perdida
Seguia aquele fogo, que o guiava
Sempre a Razão vencida foi de Amor
Sempre, cruel Senhora, receei
Senhor João Lopes, o meu baixo estado
Senhora já dest' alma, perdoai
Senhora minha, se a Fortuna imiga
Senhora minha, se de pura inveja
Sentindo-se tomada a bela esposa
Sete anos de pastor Jacob servia
Suspiros inflamados, que cantais
Sustenta meu viver üa esperança
Tal mostra dá de si vossa figura
Tanto de meu estado me acho incerto
Todas as almas tristes se mostravam
Todo o animal da calma repousava
Tomava Daliana por vingança
Tomou-me vossa vista soberana
Tornai essa brancura à alva açucena
Transforma-se o amador na cousa amada
Üa admirável erva se conhece
Um mover de olhos, brando e piadoso
Vai-me gastando Amor e um pensamento
Vencido está de Amor meu pensamento
Verdade, Amor, Razão, Merecimento
Verdes são os campos
Vós outros, que buscais repouso certo
Vós que, de olhos suaves e serenos
Vossos olhos, Senhora, que competem