quinta-feira, 27 de março de 2008

Como podes, ó cego pecador

Como podes, ó cego pecador,
estar em teus errores tão isento,
sabendo que esta vida é um momento,
se comparada com a eterna for?

Não cuides tu que o justo Julgador
deixará tuas culpas sem tormento,
nem que passando vai o tempo lento
do dia de horrendíssimo pavor.

Não gastes horas, dias, meses, anos,
em seguir de teus danos a amizade,
de que depois resultam mores danos.

E pois de teus enganos a verdade
conheces, deixa já tantos enganos,
pedindo a Deus perdão com humildade.

Luís Vaz de Camões

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