sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Pensamentos turvos, de um futuro incerto

Névoa sobre o mar. O desespero de um olhar que procura em vão a esperança por entre a bruma

Nos dias em que me sento, olhando o mar,
A vida passa célere à minha frente.
Todas as batalhas que tive que travar,
Vitórias e derrotas gravadas na mente.

Uma densa névoa ao fundo, no horizonte,
Meus pensamentos turvos, de um futuro incerto,
Um olhar vazio, o corpo dormente,
Um peso tal, que só com a morte liberto.

Na espuma do mar, afoga-se a esperança,
Revivo momentos felizes de criança,
A seiva da vida esvai-se lentamente.

De sonhos perdidos, em estado latente,
Sinto-me sem forças para outra vez lutar,
Qual náufrago, que exausto pára de nadar.

2008 Vasco de Sousa
Os direitos da imagem pertencem ao seu autor.
O original encontra-se aqui.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

A verdade aparente

mundo virtual Nesta confusa moderna sociedade,
As aparências sobrepõem-se às regras,
A mentira prevalece sobre a verdade,
O que consegues ver, não é o que esperas.

Os teus bens materiais são alicerces,
Como se vivesses num mundo virtual.
Tão envolvido estarás, que até te esqueces,
Que estás rodeado por um mundo real.

Os teus objectivos estão limitados,
Os pensamentos são ligeiros, descartáveis.
A palavra perde a força e o seu sentido.

Os grandes valores parecem condenados !
Serão os teus sentimentos insondáveis,
Estará o verdadeiro amor perdido ?

2008 Vasco de Sousa
Os direitos da imagem pertencem ao seu autor.
O original pode encontrar-se aqui.

domingo, 16 de novembro de 2008

Com grandes esperanças já cantei

Com grandes esperanças já cantei,
com que os deuses no Olimpo conquistara;
despois vim a chorar, porque cantara;
e agora choro já, porque chorei.

Se cuido nas passadas que já dei,
custa-me esta lembrança só tão cara
que a dor de ver as mágoas, que passara,
tenho pola mor mágoa, que passei.

Pois logo, se está claro que um tormento
dá causa que outro n'alma se acrescente,
já nunca posso ter contentamento.

Mas esta fantasia se me mente?
Oh! ocioso e cego pensamento!
Ainda eu imagino em ser contente!

Luís Vaz de Camões

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Amor, é fogo que arde sem se ver

Amor é fogo que arde sem se ver
É ferida que dói e não se sente
É um contentamento descontente
É dor que desatina sem doer

É um não querer mais que bem querer
É solitário andar por entre a gente
É nunca contentar-se de contente
É cuidar que se ganha em se perder

É querer estar preso por vontade
É servir a quem vence, o vencedor
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Luís Vaz de Camões

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Sempre a Razão vencida foi de Amor

Sempre a Razão vencida foi de Amor;
mas, porque assi o pedia o coração,
quis Amor ser vencido da razão.
Ora que caso pode haver maior!

Novo modo de morte e nova dor!
Estranheza de grande admiração:
que perde suas forças a afeição,
por que não perca a pena o seu rigor.

Pois nunca houve fraqueza no querer,
mas antes muito mais se esforça assim
um contrário com outro, por vencer.

Mas a Razão, que a luta vence, enfim,
não creio que é razão; mas há-de ser
inclinação que eu tenho contra mim.

Luís Vaz de Camões

domingo, 9 de novembro de 2008

Vossos olhos, Senhora, que competem

Vossos olhos, Senhora, que competem
co Sol em fermosura e claridade,
enchem os meus de tal suavidade
que em lágrimas, de vê-los, se derretem.

Meus sentidos vencidos se sometem
assi cegos a tanta divindade
e da triste prisão, da escuridade,
cheios de medo, por fugir remetem.

Mas se nisto me vedes, por acerto,
o áspero desprezo, com que olhais,
torna a espertar a alma enfraquecida.

Ó gentil cura e estranho desconcerto!
Que fará o favor que vós não dais,
quando o vosso desprezo torna a vida?

Luís Vaz de Camões