quinta-feira, 29 de maio de 2008

Quem sou eu ?

Ponto de interrogação - Quem sou eu ? Olho pelo vidro, de chuva salpicado,
Observo pela janela, o meu reflexo,
Não reconheço esse rosto maltratado,
Traído pela memória, fico perplexo.

E pergunto-me: Será que sei quem sou ?
A insatisfação cresce dentro de mim,
Uma raiva que as recordações apagou;
Uma revolta que parece não ter fim.

Hoje sinto que apenas em mim chove,
E já nem sei tão pouco o que me move,
Um sentimento sem nome, nem solução.

Apetece-me abrir aquela janela,
Molhar-me, olhando a suja viela,
Saltar através da negra escuridão.

2008 Vasco de Sousa

domingo, 25 de maio de 2008

Tu és aquela de quem eu mais gosto

Uma rosa simples, para um grande amor Quando à noite penso nesse teu jeito,
Despreocupada, alegre e vaidosa,
Essa doce voz com a qual me deleito,
Esses gestos que te tornam graciosa,

Sinto que valeu a pena de ti gostar,
E mesmo que não me queiras corresponder,
Nunca me importarei de por ti chorar,
Espero que ele, feliz te possa fazer...

Mas se o sentires e se o quiseres,
Se uma oportunidade me deres,
Meu Deus, por ti a tudo estou disposto !

Deixa-me cuidar de ti e proteger-te !
Quero gritar ao mundo, poder dizer-te:
Neste mundo tu és de quem eu mais gosto.

2008 Vasco de Sousa
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sexta-feira, 23 de maio de 2008

Tivesse eu nascido um bicho do campo

Paisagem do campo, contrastante com uma confusa sociedade moderna Tivesse eu nascido um bicho do campo,
Ou um pássaro a esvoaçar na brisa,
Uma lebre, andorinha ou pirilampo,
A serpente que por entre as pedras desliza,

E teria graciosamente escapado,
Na moderna sociedade da confusão,
Ao grande e brilhante caos instalado,
Muita e actualizada desinformação.

Poderia descansar ao sabor do vento,
Sugaria eu, sem pudor, cada momento,
E não me esqueceria pois de viver.

Tivesse eu nascido num buraco fundo,
Já não me fartaria deste meu mundo,
Pulsaria de alegria até morrer.

2008 Vasco de Sousa

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segunda-feira, 19 de maio de 2008

Todas as palavras que não mais te direi

Estrangulam-se na minha garganta, todas as palavras que não mais te direi Todas as palavras que não mais te direi,
Regurgitam nesta garganta sufocada;
A tristeza; Angústia em dor transformada.
Por quem outrora suspirei; Não mais verei.

Desculpa-me sempre que te apontei defeito,
Eterno será este amor que não tem fim,
Porque foste tu assim embora sem mim,
Ferida permanente aberta no peito.

Grande saudade que me corroi por dentro,
Da minha vida traço sinistro espectro,
Essa malvada que te afastou assim.

Desapareceste quando tinhas tanto
para dar; Cada linha será um pranto.
Porquê ? Levasse-me antes Ela a mim !

2008 Vasco de Sousa
Os direitos da imagem pertencem ao seu autor.
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domingo, 18 de maio de 2008

Amanhã não esperes mais por mim, Amor

Uma tempestade de sentimentos que me afoga em ácidas lágrimas Amanhã não esperes mais por mim, Amor,
Nesta doente alma levo um turbilhão,
Que me arrasta num imenso mar de dor,
Para o deserto, longe da multidão.

Apaga-me o corropio do tempo,
Sinto-me fraco para poder resistir,
Vento da vida que s`entranha no corpo,
A hora aproxima-se; Terei de partir.

Matam-me as tuas lágrimas sofridas,
De ti, ácidas palavras escondidas,
Ritmo sufocante que me seca a vida.

Facas que m`atravessam a carne rasgada,
Esta grande paixão em dor transfigurada,
Não quero que sofras mais ! Estou de partida...

2008 Vasco de Sousa

Idealismo

Falas de amor, e eu ouço tudo e calo
O amor na Humanidade é uma mentira.
É. E é por isto que na minha lira
De amores fúteis poucas vezes falo.

O amor! Quando virei por fim a amá-lo?!
Quando, se o amor que a Humanidade inspira
É o amor do sibarita e da hetaíra,
De Messalina e de Sardanapalo?

Pois é mister que, para o amor sagrado,
O mundo fique imaterializado-
Alavanca desviada do seu fulcro

-E haja só amizade verdadeira
Duma caveira para outra caveira,
Do meu sepulcro para o teu sepulcro?!

Augusto dos Anjos

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Com os mortos

Os que amei, onde estão? idos, dispersos,
Arrastados no giro dos tufões,
Levados, como em sonho, entre visões,
Na fuga, no ruir dos universos...

E eu mesmo, com os pés imersos
Na corrente e à mercê dos turbilhões,
Só vejo espuma lívida, em cachões,
E entre ela, aqui e ali, vultos submersos...

Mas se paro um momento, se consigo
Fechar os olhos, sinto-os a meu lado
De novo, esses que amei: vivem comigo,

Vejo-os, ouço-os e ouvem-me também,
Juntos no antigo amor, no amor sagrado,
Na comunhão ideal do eterno Bem.

Antero de Quental

Tese e antítese

I

Já não sei o que vale a nova ideia,
Quando a vejo nas ruas desgrenhada,
Torva no aspecto, à luz da barricada,
Como bacante após lúbrica ceia!

Sanguinolento o olhar se lhe incendeia...
Respira fumo e fogo embriagada...
A deusa de alma vasta e sossegada
Ei-la presa das fúrias de Medeia!

Um século irritado e truculento
Chama à epilepsia pensamento,
Verbo ao estampido de pelouro e obus...

Mas a ideia é num mundo inalterável,
Num cristalino Céu, que vive estável...
Tu, pensamento, não és fogo, és luz!


II

Num Céu intemerato e cristalino
Pode habitar talvez um Deus distante,
Vendo passar em sonho cambiante
O Ser, como espectáculo divino:

Mas o homem, na terra onde o destino
O lançou, vive e agita-se incessante...
Enche o ar da terra o seu pulmão possante...
Cá da terra blasfema ou ergue um hino...

A ideia encarna em peitos que palpitam:
O seu pulsar são chamas que crepitam,
Paixões ardentes como vivos sóis!

Combatei pois na terra árida e bruta,
Té que a revolva o remoinhar da luta,
Té que fecunde o sangue dos heróis.

Antero de Quental

Justitia Mater

Nas florestas solenes há o culto
Da eterna, íntima força primitiva:
Na serra, o grito audaz da alma cativa,
Do coração, em seu combate inulto:

No espaço constelado passa o vulto
Do inominado Alguém, que os sóis aviva:
No mar ouve-se a voz grave e aflitiva
Dum Deus que luta, poderoso e inculto.

Mas nas negras cidades, onde solta
Se ergue, de sangue mádida, a revolta,
Como incêndio que um vento bravo atiça,

Há mais alta missão, mais alta glória:
O combater, à grande luz da história,
Os combates eternos da Justiça!

Antero de Quental

Maior tortura

Na vida, para mim, não há deleite.
Ando a chorar convulsa noite,
E não tenho nem sombra em que me acoite,
E não tenho uma pedra em que me deite!

Ah! Toda eu sou sombras, sou espaços!
Perco-me em mim na dor de ter vivido!
E não tenho a doçura duns abraços
Que me façam sorrir de ter nascido!

Sou como tu um cardo desprezado
A urze que se pisa sob os pés,
Sou como tu um riso desgraçado!

Mas a minha Tortura inda é maior:
Não ser poeta assim como tu és
Para concretizar a minha Dor!

Florbela Espanca in "Trocando olhares"

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Não te conheci, mas não te esquecerei

Não te conheci, mas não te esquecerei.
Culpa, tua não é ! Minha, porventura...
Logo soube ! Arrependido ficarei,
Perdido pela tua doce frescura.

Formosa ías com o teu andar sedutor,
Num relâmpago passaste; Não te abordei !
Hoje choro ! Não de mágoa, mas sim de dor,
Depois de te ver, o mesmo não mais serei.

Naquele momento foste a minha rosa,
De entre todas elas, a mais formosa,
Que nunca mais alegrará o meu jardim.

Um mundo que se ergueu, para desmoronar,
A paixão que acabou antes de começar,
Porque haveria de terminar assim ?

2008 Vasco de Sousa

domingo, 11 de maio de 2008

Nascemos para amar

Nascemos para amar; a humanidade
Vai tarde ou cedo aos laços da ternura:
Tu és doce atractivo, ó formusura,
Que encanta, que seduz, que persuade.

Enleia-se por gosto a liberdade;
E depois que a paixão n'alma se apura
Alguns então lhe chamam desventura,
Chamam-lhe alguns então felicidade.

Qual se abismou nas lôbregas tristezas,
Qual em suaves júbilos discorre,
Com esperanças mil na ideia acesas.

Amor ou desfalece, ou pára, ou corre;
E, segundo as diversas naturezas,
Um porfia, este esquece, aquele morre.

Bocage in «Obra Poética», por Carlos Nogueira, 1997

Se pena por amar-vos se merece

Se pena por amar-vos se merece,
Quem dela livre está? ou quem isento?
Que alma, que razão, que entendimento
Em ver-vos se não rende e obedece?

Que mor glória na vida se oferece
Que ocupar-se em vós o pensamento?
Toda a pena cruel, todo o tormento
Em ver-vos se não sente, mas esquece.

Mas se merece pena quem amando
Contínuo vos está, se vos ofende,
O mundo matareis, que todo é vosso.

Em mim, Senhora, podeis ir começando,
Que claro se conhece e bem se entende
Amar-vos quanto devo e quanto posso.

Luís Vaz de Camões

Eu cantarei de amor tão docemente

Eu cantarei de amor tão docemente,
Por uns termos em si tão concertados,
Que dois mil acidentes namorados
Faça sentir ao peito que não sente.

Farei que amor a todos avivente,
Pintando mil segredos delicados,
Brandas iras, suspiros magoados,
Temerosa ousadia e pena ausente.

Também, Senhora, do desprezo honesto
De vossa vista branda e rigorosa,
Contentar-me-ei dizendo a menor parte.

Porém, pera cantar de vosso gesto
A composição alta e milagrosa
Aqui falta saber, engenho e arte.

Luís Vaz de Camões

Quem presumir, Senhora, de louvar-vos

Quem presumir, Senhora, de louvar-vos
Com humano saber, e não divino,
Ficará de tamanha culpa dino
Quamanha ficais sendo em contemplar-vos.

Não pretenda ninguém de louvor dar-vos,
Por mais que raro seja, e peregrino:
Que vossa fermosura eu imagino
Que Deus a ele só quis comparar-vos.

Ditosa esta alma vossa, que quisestes
Em posse pôr de prenda tão subida,
Como, Senhora, foi a que me destes.

Melhor a guardarei que a própria vida;
Que, pois mercê tamanha me fizestes,
De mim será jamais nunca esquecida.

Luís Vaz de Camões

Amor, que o gesto humano na alma escreve

Amor, que o gesto humano na alma escreve,
Vivas faíscas me mostrou um dia,
Donde um puro cristal se derretia
Por entre vivas rosas e alva neve.

A vista, que em si mesma não se atreve,
Por se certificar do que ali via,
Foi convertida em fonte, que fazia
A dor ao sofrimento doce e leve

.Jura Amor que brandura de vontade
Causa o primeiro efeito; o pensamento
Endoudece, se cuida que é verdade.

Olhai como Amor gera, num momento
De lágrimas de honesta piedade,
Lágrimas de imortal contentamento.

Luís Vaz de Camões

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.

Luís Vaz de Camões

Descalça vai para a fonte

Descalça vai para a fonte
Lianor pela verdura;
Vai fermosa, e não segura.

Leva na cabeça o pote,
O testo nas mãos de prata,
Cinta de fina escarlata,
Sainho de chamelote;
Traz a vasquinha de cote,
Mais branca que a neve pura.
Vai fermosa e não segura.

Descobre a touca a garganta,
Cabelos de ouro entrançado
Fita de cor de encarnado,
Tão linda que o mundo espanta.
Chove nela graça tanta,
Que dá graça à fermosura.
Vai fermosa e não segura.

Luís Vaz de Camões

Endechas a Bárbara escrava

Aquela cativa
Que me tem cativo,
Porque nela vivo
Já não quer que viva.
Eu nunca vi rosa
Em suaves molhos,
Que pera meus olhos
Fosse mais fermosa.

Nem no campo flores,
Nem no céu estrelas
Me parecem belas
Como os meus amores.
Rosto singular,
Olhos sossegados,
Pretos e cansados,
Mas não de matar.

U~a graça viva,
Que neles lhe mora,
Pera ser senhora
De quem é cativa.
Pretos os cabelos,
Onde o povo vão
Perde opinião
Que os louros são belos.

Pretidão de Amor,
Tão doce a figura,
Que a neve lhe jura
Que trocara a cor.
Leda mansidão,
Que o siso acompanha;
Bem parece estranha,
Mas bárbara não.

Presença serena
Que a tormenta amansa;
Nela, enfim, descansa
Toda a minha pena.
Esta é a cativa
Que me tem cativo;
E. pois nela vivo,
É força que viva.

Luís Vaz de Camões

Ah! minha Dinamene! Assim deixaste

Ah! minha Dinamene! Assim deixaste
Quem não deixara nunca de querer-te!
Ah! Ninfa minha, já não posso ver-te,
Tão asinha esta vida desprezaste!

Como já pera sempre te apartaste
De quem tão longe estava de perder-te?
Puderam estas ondas defender-te
Que não visses quem tanto magoaste?

Nem falar-te somente a dura Morte
Me deixou, que tão cedo o negro manto
Em teus olhos deitado consentiste!

Oh mar! oh céu! oh minha escura sorte!
Que pena sentirei que valha tanto,
Que inda tenha por pouco viver triste?

Luís Vaz de Camões

Tanto de meu estado me acho incerto

Tanto de meu estado me acho incerto,
Que em vivo ardor tremendo estou de frio;
Sem causa, juntamente choro e rio;
O mundo todo abarco e nada aperto.

É tudo quanto sinto um desconcerto;
Da alma um fogo me sai, da vista um rio;
Agora espero, agora desconfio,
Agora desvario, agora acerto.

Estando em terra, chego ao Céu voando;
Nu~a hora acho mil anos, e é de jeito
Que em mil anos não posso achar u~a hora.

Se me pergunta alguém porque assim ando,
Respondo que não sei; porém suspeito
Que só porque vos vi, minha Senhora.

Luís Vaz de Camões

O fogo que na branda cera ardia

O fogo que na branda cera ardia,
Vendo o rosto gentil que na alma vejo.
Se acendeu de outro fogo do desejo,
Por alcançar a luz que vence o dia.

Como de dois ardores se incendia,
Da grande impaciência fez despejo,
E, remetendo com furor sobejo,
Vos foi beijar na parte onde se via.

Ditosa aquela flama, que se atreve
Apagar seus ardores e tormentos
Na vista do que o mundo tremer deve!

Namoram-se, Senhora, os Elementos
De vós, e queima o fogo aquela nave
Que queima corações e pensamentos.

Luís Vaz de Camões

Quem pode livre ser, gentil Senhora

Quem pode livre ser, gentil Senhora,
Vendo-vos com juízo sossegado,
Se o Menino que de olhos é privado
Nas meninas de vossos olhos mora?

Ali manda, ali reina, ali namora,
Ali vive das gentes venerado;
Que o vivo lume e o rosto delicado
Imagens são nas quais o Amor se adora.

Quem vê que em branca neve nascem rosas
Que fios crespos de ouro vão cercando,
Se por entre esta luz a vista passa,

Raios de ouro verá, que as duvidosas
Almas estão no peito trespassando
Assim como um cristal o Sol trespassa.

Luís Vaz de Camões

Transforma-se o amador na cousa amada

Transforma-se o amador na cousa amada,
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho logo mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada.

Se nela está minha alma transformada,
Que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si sómente pode descansar,
Pois consigo tal alma está liada.

Mas esta linda e pura semideia,
Que, como o acidente em seu sujeito,
Assim co'a alma minha se conforma,

Está no pensamento como ideia;
[E] o vivo e puro amor de que sou feito,
Como matéria simples busca a forma.

Luís Vaz de Camões

Verdes são os campos

Verdes são os campos,
De cor de limão:
Assim são os olhos
Do meu coração.

Campo, que te estendes
Com verdura bela;
Ovelhas, que nela
Vosso pasto tendes,
De ervas vos mantendes
Que traz o Verão,
E eu das lembranças
Do meu coração.

Gados que pasceis
Com contentamento,
Vosso mantimento
Não no entendereis;
Isso que comeis
Não são ervas, não:
São graças dos olhos
Do meu coração.

Luís Vaz de Camões

Busque Amor novas artes, novo engenho

Busque Amor novas artes, novo engenho
Pera matar-me, e novas esquivanças,
Que não pode tirar-me as esperanças,
Que mal me tirará o que eu não tenho.

Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
Andando em bravo mar, perdido o lenho.

Mas, enquanto não pode haver desgosto
Onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê,

Que dias há que na alma me tem posto
Um não sei quê, que nasce não sei onde,
Vem não sei como e dói não sei porquê.

Luís Vaz de Camões

Soneto 54

Oh, como a beleza parece mais bela
com o doce ornamento que a verdade produz!
A rosa tão bela, mas mais bela a julgamos
Pelo doce aroma que nela seduz.

As rosas silvestres têem a cor tão profunda
Quanto a tintura das rosas perfumadas,
Têem os mesmos espinhos e brincam tão vivamente
Quando o sopro do verão expõe os botões velados;

Mas exibem-se apenas para si mesmas,
Vivem esquecidas e murcham obscuras;
Morrem sozinhas. As doces rosas, não;

De suas doces mortes surgem as mais doces essências.
e assim também a ti, a bela e adorável mocidade,
Fenecido o frescor, revela em versos tua verdade.

William Shakespeare

Soneto de Pablo Neruda em 100 love sonnets

Não te quero senão porque te quero
e de querer-te a não querer-te chego
e de esperar-te quando não te espero
passa meu coração do frio ao fogo.

Te quero só porque a ti te quero,
te odeio sem fim, e odiando-te rogo,
e a medida do meu amor viageiro
é não ver-te e amar-te como um cego.

Talvez consumirá a luz de janeiro
seu raio cruel, meu coração inteiro,
roubando-me a chave do sossego.

Nesta história só eu morro
e morrerei de amor porque te quero,
porque te quero, amor a sangue e fogo.

De Pablo Neruda 2007

Soneto de Pablo Neruda em 100 love sonnets

NÃO TE AMO como se fosses rosa de sal, topázio
ou flecha de cravos que propagam o fogo:
te amo como se amam certas coisas obscuras,
secretamente, entre a sombra e a alma.

Te amo como a planta que não floresce e leva
dentro de si, oculta, a luz daquelas flores,
e graças a teu amor vive escuro em meu corpo
o apertado aroma que ascendeu da terra.

Te amo sem saber como, nem quando, nem onde,
te amo diretamente sem problemas nem orgulho:
assim te amo porque não sei amar de outro maneira,

senão assim deste modo em que não sou nem és
tão perto que tua mão sobre meu peito é minha
tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.

De Pablo Neruda 2007

sexta-feira, 9 de maio de 2008

As minhas memórias perdidas

Hoje amo-te como nunca amei ninguém !
Apenas tu me despertas grande paixão.
Se um dia eu gostar de mais alguém,
Nunca será com tão grande dedicação.

Eu sei que és a mulher da minha vida.
Mas também sei, que para outro te perdi.
Se tu não fosses uma menina linda,
Talvez eu não chorasse, porque desisti.

Queria que por mim te interessasses,
Gostava que a fundo me conhecesses,
Por tua livre, espontânea vontade.

Quando me recordo da tua voz meiga,
Que me livra totalmente da fadiga,
As lágrimas correm-me sem piedade.

2008 Vasco de Sousa

Partiste para todo o sempre

Eu flutuo perdido nas ondas do mar...
Nas profundezas, ficou o meu coração,
Em mil pedaços ficou quebrado a sangrar,
Por esta enorme e perdida paixão.

Em tuas mãos sempre esteve o meu destino,
Tu condenaste todo o meu futuro.
Deixaste-me em completo desatino,
Fechado atrás deste imenso muro.

Nós poderíamos hoje estar juntos,
Experimentando novos sentimentos,
Num longo percurso de felicidade !

Mas, foste apenas tu que o decidiste,
Não me consultaste e depois partiste.
Deixaste apenas a infelicidade...

2008 Vasco de Sousa

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Sexo

Longas pernas em salto alto e negras meias de ligas Breves raios de Sol cortam a penumbra,
Talvez sonhe ou esteja acordado,
Vislumbro vagamente a tua sombra,
O som dos teus saltos, fico excitado.

Suavemente ao meu ouvido murmuras,
Lentamente despertas os meus sentidos,
Suave toque de seda das negras meias,
Dor de prazer dos teus saltos afiados.

O êxtase do teu cheiro a cabedal,
Roças no meu corpo; cheiro divinal,
Tua pele macia, doces sensações.

De gatas, beijas-me tu devagarinho,
Tua língua quente, doce carinho,
No clímax, uma explosão de emoções.

2008 Vasco de Sousa