terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Soneto de Natal

Um homem, - era aquela noite amiga,
Noite cristã, berço do Nazareno, -
Ao relembrar os dias de pequeno,
E a viva dança, e a lépida cantiga,

Quis transportar ao verso doce e ameno
As sensações da sua idade antiga,
Naquela mesma velha noite amiga,
Noite cristã, berço do Nazareno.

Escolheu o soneto... A folha branca
Pede-lhe a inspiração; mas, frouxa e manca,
A pena não acode ao gesto seu.

E, em vão lutando contra o metro adverso,
Só lhe saiu este pequeno verso:
"Mudaria o Natal ou mudei eu?"

Machado de Assis

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Lua solitária, que daqui te vejo

Lua cheia que me olhas solitária, ao fundo do horizonte

Lua solitária, que daqui te vejo,
Essa tua expressão, triste e pensativa,
Parece-me que necessitas de um beijo,
Para me olhares, mais convidativa.

O que pensas, não posso tão pouco saber,
Fazes-me companhia nesta solidão,
Procuro em ti, a minha razão de ser,
Pessoa pareces, tal a sofreguidão.

Meu desassossego tu partilhas comigo,
Sabiamente acalmas o meu coração,
Como se também pudesses comunicar !

Não te escondes deste teu novo amigo,
Que a tua presença não seja em vão,
O meu caminho possas tu iluminar !

2008 Vasco de Sousa
Os direitos da imagem pertencem ao seu autor.
O original pode ser encontrado aqui.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Quando a morte nos espreita

Em certo dia, quando por razão médica,
Por entre as brumas, a morte nos espreita,
De rompante, sem nenhuma causa suspeita,
O coração bate e o cérebro suplica. Quando a morte nos espreita

Então, talvez subitamente preparados,
Invade o corpo uma estranha calma,
Que estranhamente se apodera da alma,
Seguiremos os nossos destinos traçados.

Se por feliz acaso, ela se vai embora,
Nosso mundo não voltará a ser igual,
Com outros olhos, tudo iremos sorver.

Serenos, valorizamos a vida, agora !
Cada segundo será sensacional,
Porque sentimos a alegria de viver !

2008 Vasco de Sousa
Os direitos da imagem pertencem ao seu autor.
O original foi retirado
aqui.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Sentado observo as tuas longas labaredas

Fogo de longas labaredas, com as tuas afiadas línguas que lambem a madeira Sentado observo as tuas longas labaredas,
Afiadas línguas que lambem a madeira,
Por entre os troncos, inventas novas veredas,
Crepitas lentamente dentro da lareira.

Tudo vais reduzir a cinzas, aos poucos,
De uma forma certeira e implacável.
Os meus receios poderás consumir,
Nessa longa tarefa interminável.

Tua luz ilumina meus pensamentos,
Um confortável calor que aquece a minha alma,
Em ténues memórias eu me deixo levar.

Não te compadeces com os meus lamentos,
Continuas, com sabedoria e calma,
Até que em cinzas tudo possa ficar.

2008 Vasco de Sousa
Os direitos da imagem pertencem ao seu autor.
O original, encontra-se aqui.