sexta-feira, 28 de março de 2008

Quando de minhas mágoas a comprida

Quando de minhas mágoas a comprida
Maginação os olhos me adormece,
Em sonhos aquela alma me aparece
Que pera mim foi sonho nesta vida.

Lá núa soidade, onde estendida
A vista pelo campo desfalece,
Corro para ela; e ela então parece
Que mais de mim se alonga, compelida.

Brado: "Não me fujais, sombra benina!"
Ela, os olhos em mim cum brando pejo,
Como quem diz que já não pode ser,

Torna a fugir-me: e eu, gritando: "Dina..."
Antes que diga mene, acordo e vejo
Que nem um breve engano e posso ter.

Luís Vaz de Camões

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