sexta-feira, 28 de março de 2008

No mundo quis um tempo que se achasse

No mundo quis um tempo que se achasse
O bem por acerto ou sorte vinha;
E, por exprimentar que dita tinha,
Quis que a Fortuna em mim se exprimentasse.

Mas por que meu destino me mostrasse
Que nem ter esperanças me convinha,
Nunca nesta tão longa vida minha
Cousa me deixou ver que desejasse.

Mudando andei costume, terra e estado,
Por ver se se mudava a sorte dura;
A vida pus nas mãos de um leve lenho.

Mas – segundo o que o Céu me tem mostrado -
Já sei que deste meu buscar ventura,
Achado tenho já que não a tenho.

Luís Vaz de Camões

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