quinta-feira, 27 de março de 2008

Doces e claras águas do Mondego

Doces e claras águas do Mondego,
Doce repouso de minha lembrança,
Onde a comprida e pérfida esperança
Longo tempo após si me trouxe cego:

De vós me aparto, sim; porém não nego
Que inda a longa memória, que me alcança,
Me não deixa de vós fazer mudança;
Mas quanto mais me alongo, mais me achego.

Bem puderá a Fortuna este instrumento
Da alma levar por terra nova e estranha,
Oferecido ao mar remoto, ao vento;

Mas alma, que de cá vos acompanha,
Nas asas do ligeiro pensamento,
Pera vós, águas, voa, e em vós se banha.

Luís Vaz de Camões

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