Quando a suprema dor muito me aperta,
se digo que desejo esquecimento,
é força que se faz ao pensamento,
de que a vontade livre desconcerta.
Assi, de erro tão grave me desperta
a luz do bem regido entendimento,
que mostra ser engano ou fingimento
dizer que em tal descanso mais se acerta.
Porque essa própria imagem, que na mente
me representa o bem de que careço,
faz-mo de um certo modo ser presente.
Ditosa é logo a pena que padeço,
pois que da causa dela em mim se sente
um bem que, inda sem ver-vos, reconheço.
Luís Vaz de Camões
sexta-feira, 28 de março de 2008
Quando a suprema dor muito me aperta
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