Senhora minha, se a Fortuna imiga,
que em minha fim com todo o Céu conspira,
os olhos meus de ver os vossos tira,
por que em mais graves casos me persiga;
comigo levo esta alma, que se obriga,
na mor pressa de mar, de fogo, de ira,
a dar-vos a memória, que suspira
só por fazer convosco eterna liga.
Nesta alma, onde a Fortuna pode pouco,
tão viva vos terei, que frio e fome
vos não possam tirar, nem vãos perigos.
Antes co som da voz, trémulo e rouco,
bradando por vós, só com vosso nome,
farei fugir os ventos e os imigos.
Luís Vaz de Camões
sábado, 29 de março de 2008
Senhora minha, se a Fortuna imiga
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