quinta-feira, 27 de março de 2008

Já tempo foi que meus olhos folgavam

Já tempo foi que meus olhos folgavam
de ver os verdes campos graciosos;
tempo foi já também que os sonorosos
ribeiros meus ouvidos recreavam.

Foi tempo que nos bosques me alegravam
os cantares das aves saudosos,
os freixos e altos álamos umbrosos
cujos ramos por cima se ajuntavam.

Permanecer não pude em tal folgança;
não me pôde durar esta alegria,
não quis este meu bem ter segurança;

ainda neste tempo eu não sentia
do fero Amor a força e a mudança,
os laços e as prisões com que prendia.

Luís Vaz de Camões

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