quinta-feira, 27 de março de 2008

Foi já um tempo doce cousa amar

Foi já um tempo doce cousa amar,
enquanto me enganava a esperança;
o coração, com esta confiança,
todo se desfazia em desejar.

Ó vão, caduco e débil esperar!
Como se desengana üa mudança!
Que, quanto é mor a bem-aventurança,
tanto menos se crê que há-de durar.

Quem já se viu contente e prosperado,
vendo-se em breve tempo em pena tanta,
razão tem de viver bem magoado.

Porém quem tem o mundo exprimentado,
não o magoa a pena nem o espanta,
que mal se estranhará o costumado.

Luís Vaz de Camões

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