Diz-me a tília a cantar: “Eu sou sincera,
Eu sou isto que vês: o sonho, a graça,
Deu ao meu corpo, o vento, quando passa,
Este ar escultural de bayadera…
E de manhã o sol é uma cratera,
Uma serpente de ouro que me enlaça…
Trago nas mãos as mãos da primavera…
E é para mim que em noites de desgraça
Toca o vento Mozart, triste e solene,
E à minha alma vibrante, posta a nu,
Diz a chuva sonetos de Verlaine…”
E, ao ver-me triste, a tília murmurou:
“Já fui um dia poeta como tu…
Ainda hás de ser tília como eu sou…”
Florbela Espanca em A mensageira das violetas
domingo, 6 de janeiro de 2008
A voz da Tília
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