quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Soneto 144

Debalde um céu cioso, ó Nise, encobre
Intactas perfeições ao meu desejo;
Tudo o que me escondes, tudo o que eu não vejo,
A mente audaz e alígera* descobre.

Por mais, e mais que as sentinelas dobre
A sisuda Modéstia, o sério Pejo,
Teus braços logro, teus encantos beijo
Por milagres da ideia afoita e nobre.

Inda que prémio teu rigor me negue,
Do pensamento a indómita porfia
Ao mais doce prazer me deixa entregue:

Que pode contra Amor a tirania,
Se as delícias, que a vista não consegue,
Consegue a temerária fantasia?

*ligeira
Bocage in «Obra Completa- Volume I - Sonetos», Ed. Caixotim

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