quarta-feira, 9 de julho de 2008

Ser poeta

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e cetim…
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente…
É seres alma e sangue e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!

Florbela Espanca in "Poesia completa"

1 comentários:

Anónimo disse...

Ser Poeta...

Está fascinado, o Poeta!
Escaparam-se-lhe os vocábulos
Com que formava frases,
Soluços que partilhava
Com o pensamento,
Que lhe gotejava para as mãos…

O que ele podia ter escrito
Já não o aflige,
Não o atormenta.

Não é tristeza o que sente,
Pois que pode ouvir
Calado,
Um silêncio,
Agora sua voz.
E as pedras,
As plantas,
Todo o chão florido,
Está coberto de frases.

Sabe a viagens,
Todas as que idealizou,
Enquanto se inebriava
Com a ventura de escrever
Sobre um céu
Rico de azul;
Sabe à água que olhava,
Correndo bondosa,
Pelo leito do sentimento
Que o enchia,
Quando se sentava,
E pegava, sereno, na caneta…

Está fascinado, o Poeta!
Rodeado da inspiração,
Da que deixou escapar,
Não o torna nostálgico.
Experimenta sim,
A divina graça de se sentir feliz,
Sorrindo ao sol,
Que aquece toda a harmonia
Que floresce, como um bem,
Sob os seus pés, em pétalas alvas,
Qual Poesia!

Há muito que não punhas aqui algo.
Sente-se saudade dum espaço. Sente-se quando se gosta.
Beijo,
Cris