sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

Transcendentalismo

(A J. P. Oliveira Martins)

Já socega, depois de tanta lucta,
Já me descança em paz o coração.
Cahi na conta, emfim, de quanto é vão
O bem que ao Mundo e á Sorte se disputa.

Penetrando, com fronte não enxuta,
No sacrario do templo da Ilusão,
Só encontrei, com dor e confusão,
Trevas e pó, uma materia bruta...

Não é no vasto mundo — por immenso
Que ele pareça á nossa mocidade —
Que a alma sacia o seu desejo intenso...

Na esphera do invisivel, do intangivel,
Sobre desertos, vacuo, soledade,
Vôa e paira o espirito impassivel!

Antero de Quental

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