(À Exma Sra D. Celeste C. B. R.)
I
Vozes do mar, das arvores, do vento!
Quando ás vezes, n'um sonho doloroso,
Me embala o vosso canto poderoso,
Eu julgo igual ao meu vosso tormento...
Verbo crepuscular e intimo alento
Das cousas mudas; psalmo mysterioso;
Não serás tu, queixume vaporoso,
O suspiro do mundo e o seu lamento?
Um espirito habita a immensidade:
Uma ancia cruel de liberdade
Agita e abala as formas fugitivas.
E eu comprehendo a vossa lingua estranha,
Vozes do mar, da selva, da montanha...
Almas irmans da minha, almas captivas!
II
Não choreis, ventos, arvores e mares,
Côro antigo de vozes rumorosas,
Das vozes primitivas, dolorosas
Como um pranto de larvas tumulares...
Da sombra das visões crepusculares
Rompendo, um dia, surgireis radiosas
D'esse sonho e essas ancias affrontosas,
Que exprimem vossas queixas singulares...
Almas no limbo ainda da existencia,
Accordareis um dia na Consciencia,
E pairando, já puro pensamento,
Vereis as Formas, filhas da Ilusão,
Cahir desfeitas, como um sonho vão...
E acabará por fim vosso tormento.
Antero de Quental
sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007
Redenção
Etiquetas:
Antero de Quental
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
0 comentários:
Enviar um comentário