A cruz dizia á terra onde assentava,
Ao vale obscuro, ao monte aspero e mudo:
— Que és tu, abysmo e jaula, aonde tudo
Vive na dor e em lucta cega e brava?
Sempre em trabalho, condemnada escrava.
Que fazes tu de grande e bom, contudo?
Resignada, és só lodo informe e rudo;
Revoltosa, és só fogo e horrida lava...
Mas a mim não ha alta e livre serra
Que me possa igualar!.. amor, firmeza,
Sou eu só: sou a paz, tu és a guerra!
Sou o espirito, a luz!.. tu és tristeza,
Oh lodo escuro e vil! — Porêm a terra
Respondeu: Cruz, eu sou a Natureza!
Antero de Quental
quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007
Diálogo
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Antero de Quental
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