Há mil anos, e mais, que aqui estou morto,
Posto sobre um rochedo à chuva e ao vento:
Não há como eu espectro macilento,
Nem mais disforme que eu nenhum aborto...
Só o espírito vive: vela absorto
Num fixo, inexorável pensamento:
«Morto, enterrado em vida!», o meu tormento
É isto só... do resto não me importo...
Que vivi sei-o bem... mas foi um dia,
Um dia só... - no outro, A Idolatria
Deu-me um altar e um culto... ai! adoraram-me,
Como se eu fosse alguém! como se a Vida
Pudesse ser alguém! - logo em seguida
Disseram-me que era um Deus... e amortalharam-me!
Antero de Quental
quinta-feira, 15 de fevereiro de 2007
Palavras dum certo morto
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Antero de Quental
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