quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

Acordando

Em sonho, às vezes, se o sonhar quebranta
Este meu vão sofrer; esta agonia,
Como sobe cantando a cotovia,
Para o céu a minh'alma sobe e canta.

Canta a luz, a alvorada, a estrela santa,
Que ao mundo traz piedosa mais um dia...
Canta o enlevo das cousas, a alegria
Que as penetra de amor e as alevanta...

Mas, de repente, um vento humido e frio
Sopra sobre o meu sonho: um calafrio
Me acorda. — A noite é negra e muda: a dor

Cá vela, como d'antes, ao meu lado...
Os meus cantos de luz, anjo adorado,
São sonho só, e sonho o meu amor!

Antero de Quental

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