Vai-te na aza negra da desgraça,
Pensamento de amor, sombra d'uma hora,
Que abracei com delírio, vai-te, embora,
Como nuvem que o vento impele... e passa.
Que arrojemos de nós quem mais se abraça,
Com mais ancia, á nossa alma! e quem devora
D'essa alma o sangue, com que vigora,
Como amigo comungue á mesma taça!
Que seja sonho apenas a esperança,
Enquanto a dor eternamente assiste.
E só engano nunca a desventura!
Se era silêncio sofrer fora vingança!..
Envolve-te em ti mesma, ó alma triste,
Talvez sem esperança haja ventura!
Antero de Quental
quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007
Desesperança
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Antero de Quental
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