Pudesse eu dizer-te num murmúrio,
o que leva uma eternidade pra sentir.
Secreto amor, não antevejo, nem augúrio,
ténue esperança de te poder seduzir.
Pudesse eu desvendar por um instante,
que te amo ternamente sem saberes,
e teus olhos debruçarem qual amante,
sobre mim um olhar pleno de prazer.
Deleitar-me no frescor da tua boca,
palmilhar pelos teus dedos esguios,
num só respirar, deixar-me adormecer
no teu odor, que em minha mente evoca,
exalados beijos carmins, correndo como rios.
E eu amando-te ternamente sem saberes…
Olinda Ribeiro
sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011
Secreto amor
Quem seria?
Se não fosses tu quem seria? Quem seria…
Que me faria chorar amargamente?
Desejar não saber o que é estar contente.
Nem que a noite escura, mais ainda escurecia.
Quem mais me pode fazer desejar,
Ver nas belas flores triste nostalgia,
Nos quentes raios de sol, tortura fria,
E no estridente riso, longo chorar.
Só tu me podes fazer ensurdecer,
Cegar pra não ver tudo o que é belo,
Tirar-me do peito a própria vida.
Quem mais que tu me faz sofrer?
Desfaz os meus sorrisos de estrelo,
Deixa minha mágoa mais constrangida?
Olinda Ribeiro
domingo, 20 de fevereiro de 2011
Labirinto dos sentidos
Esteve um dia mais ou menos coiquinho,
As nuvens carregadas ameaçavam bategar,
A mãe terra, solicita interviu para ajudar,
O vento cúmplice balanceou-se maneirinho.
Inspiração para escrever em tom logaédico,
Já que sou latina de alma e sentimento,
Derivo das odes do meu descontentamento,
Envolvo-me num relato nada homérico.
Sei que por vezes sou estóica e outras frágil,
Marco pontos quando me enlevo no enredo,
Sucintamente debelo todo o meu disjuntor,
Entrelaço ritmos cardíacos de forma ágil,
Para não realçar o terror com que precedo,
Esta angústia de me perder sem amor.
Que amar sem sentido até faz parte,
Das lânguidas horas cheias de torpor,
Onde faço do amor, apetecida arte.
Olinda Ribeiro
Fado peregrino
Se nasci com o destino marcado,
não sei, sei que tenho por destino,
palmilhar este fado peregrino,
com minhas lágrimas lavado.
Ai saudade, do colo de minha mãe,
do seu odor, da suave fragrância,
que me adocicava a infância,
protegia da dor, a dor que o fado tem.
Mas os anos não perdoam,
e vamos vivendo nosso fado,
com ou sem destino marcado,
as dores no peito ressoam.
Cantadores e cantadeiras,
desta melodia trinada,
cantemos há desgarrada,
as nossas dores pranteadeiras.
Mas o sol nasce todos os dias!
Com ou sem destino marcado.
Fado destino, ou destino fadado,
também vivencio muitas alegrias!
Olinda Ribeiro
segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011
Ao meu amor inventado
Vem cá aninhar-te no meu colo,
Deixa que te murmure ao ouvido,
Um delírio de amor esculpido,
Pelo desejo que em ti aureolo.
Quero ter-te bem colado a mim.
Sentir a tua pele e o teu cheiro,
Recordar o nosso beijo primeiro,
Junto ao envergonhado alecrim.
Quem mais poderia eu amar?
Se só tu me fazes reluzir!
Meus suspiros são estrelas do céu,
Que há noite brilham para iluminar,
O que só tu sabes em mim descobrir,
Um oceano de amor todo teu!
Olinda Ribeiro
Ensaio sobre o amor
Distantes já vão aqueles tempos,
Que olhei para ti… Demoradamente…
E então parei por alguns momentos,
Sem que fosse para mim consciente,
Que aquilo que nessa altura senti,
Se transformaria neste amor por ti.
A razão pela qual, tal coisa aconteceu,
Continua a ser por mim desconhecida,
Mas foste tu o ser que me enalteceu,
E deu sentido a toda a minha vida.
Nem sei se foi por causa do teu olhar,
Das conversas, do sorriso de encantar.
Sei que após todos estes anos volvidos,
Tudo para mim continua a fazer sentido,
Todos os bons e maus momentos vividos,
Que nos têm desde sempre unido.
E é por isso que com orgulho te digo aqui,
Que até hoje estou apaixonado por ti.
2011 Vasco de Sousa
Para ti, meu amor.
sábado, 12 de fevereiro de 2011
Acto reconciliador
Mandei prás urtigas, dor, decepção,
tudo o que me deixa deprimente.
Talvez até vá dar banho ao cão…
(não tenho cão) quero é ficar contente.
Abandonar esta neurastenia.
Estou farta de dramas e choro,
aproveitar melhor a vida e o dia,
arranjar um cais onde me ancoro.
O instinto diz para me reconcentrar.
Que a hora não é para perdições.
Muito atenta ao ouvir (mais ao falar)…
Exijo saber se aprendi bem as lições.
Apurar junto do meu coração,
O efeito deste acto reconciliador,
Aceitar a doce recompensação,
De acreditar que tenho valor.
Ninguém é melhor que ninguém.
Telhados de vidro todos temos,
O melhor de nos darmos bem,
São estes momentos supremos.
Olinda Ribeiro
quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011
Estátua
Cansei-me de tentar o teu segredo:
No teu olhar sem cor, - frio escalpelo,
O meu olhar quebrei, a debatê-lo,
Como a onda na crista dum rochedo.
Segredo dessa alma e meu degredo
E minha obsessão! Para bebê-lo
Fui teu lábio oscular, num pesadelo,
Por noites de pavor, cheio de medo.
E o meu ósculo ardente, alucinado,
Esfriou sobre o mármore correto
Desse entreaberto lábio gelado...
Desse lábio de mármore, discreto,
Severo como um túmulo fechado,
Sereno como um pélago quieto.
Camilo Pessanha
quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011
No meu armário
Guardo coisas infinitas
Umas belas, outras feias,
Tudo à mistura…
Em diversas gavetitas.
Remexo de vez em quando,
Para tentar ordenar,
Mas este maldito armário,
Nem me deixa começar.
No meu armário
Guardo sonhos e ilusões,
Tristezas e alegrias,
Guardo o presente e passado,
A raiva, dor e frustrações…
O sonho de ser o que não fui,
A vontade de ir em frente,
Deixar de ser marionete,
Dar um salto de repente.
No meu armário
Guardo bolas de mil cores,
Tenho brilhantes escondidos,
Plumas para me enfeitar,
Perfumes de bons odores.
Vou bailar e rodopiar,
E abrir o meu armário,
Que está à minha espera,
E vale a pena tentar.
2010 Dora Pinto
Texto enviado para publicação por uma leitora do blog
terça-feira, 8 de fevereiro de 2011
Cândido & ardente desejo
Ilumino o céu com o sorriso
Das chamas ardentes do desejo
Afasto as nuvens de lágrimas
Tenho muita paixão e pouco siso
Em vez de rosas dá-me um beijo
Ao dar-me um beijo, minha boca sublimas!
Destila do meu corpo todo o fulgor
Abranda minhas ondas altaneiras
Teus dedos por minha pele preambule
Mostra como é verosímil o teu ardor
Preenche-me de todas as maneiras
Quero viver num céu pleno de azul.
Ou deixa-me na cândida ignorância
Já que toda febril por ti me arraso
Mistérios gozosos nas finas areias
Aspergindo a tua suave fragrância
Aquiescendo no peito onde abraso
O doce intuir de que por mim anseias.
Olinda Ribeiro
segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011
Trocada por nada
Não digas nada, de nada, tenho fartura.
Desvelos e mimos é que me anelam.
Sujeito-me a desdenhosa desventura,
cúspides virulentas já me flagelam.
Porque por outros afectos me trocaste?
Dizias que quem mais te ama sou eu.
Então porque de mim te apartaste?
E deixaste comigo o amor que é teu.
Qualquer ou quaisquer sejam as razões,
são fracas e vazias, sem conteúdo,
meras desculpas esfarrapadas, diabrura.
Desertaste, foste atrás de ilusões,
deixaste um coração capaz de tudo!
A troco de nada, deixas-me na clausura!
Olinda Ribeiro
domingo, 6 de fevereiro de 2011
Cumplicidade
Longos são os dias que lentamente passam…
Grande é o rebuliço do dia-a-dia,
Por vezes sinto que as minhas forças fracassam,
Envolto numa estranha melancolia.
É nesses dias que me sinto despertar,
Quando sinto por perto a tua presença,
Quando trocamos um sorriso, um olhar,
Porque és tu que fazes toda a diferença.
Apenas porque, tão bem nos sintonizamos,
Quando tens qualquer coisa para dizer,
Parece que a consigo já adivinhar.
Somos cúmplices naquilo de que gostamos,
Os teus pensamentos quase que posso ler,
E para mim isso significa amar.
2011 Vasco de Sousa
sábado, 5 de fevereiro de 2011
Após o Noivado
Em flácido divã ela resvala
Na alcova -- bem feliz, alegremente,
E o fresco penteador alvinitente,
De nardo e benjoim o aroma exala.
E o noivo todo amor, assim lhe fala,
Por entre vibrações do olhar ardente:
Pertences-me afinal, pomba dormente
Parece que a razão de gozo, estala.
Mas eis -- corre-se então nívea cortina:
E a plácida, a ideal, a branca lua
Derrama nos vergéis a luz divina...
Depois... Oh! Musa audaz, ousada, e nua,
Não rompas esse véu de gaze fina
Que encerra um madrigal -- Vamos... recua!...
Cruz e Souza
Visão Guiadora
Ó alma silenciosa e compassiva
Que conversas com os Anjos da Tristeza,
Ó delicada e lânguida beleza
Nas cadeias das lágrimas cativa.
Frágil, nervosa timidez lasciva,
Graça magoada, doce sutileza
De sombra e luz e da delicadeza
Dolorosa de música aflitiva.
Alma de acerbo, amargurado exílio,
Perdida pelos céus num vago idílio
Com as almas e visões dos desolados.
Ó tu que és boa e porque és boa és bela,
Da Fé e da Esperança eterna estrela
Todo o caminho dos desamparados.
Cruz e Souza
Flores da Lua
Brancuras imortais da Lua Nova
Frios de nostalgia e sonolência...
Sonhos brancos da Lua e viva essência
Dos fantasmas noctívagos da Cova.
Da noite a tarda e taciturna trova
Soluça, numa tremula dormência...
Na mais branda, mais leve florescência
Tudo em Visões e Imagens se renova.
Mistérios virginais dormem no Espaço,
Dormem o sono das profundas seivas,
Monótono, infinito, estranho e lasso...
E das Origens na luxúria forte
Abrem nos astros, nas sidéreas leivas
Flores amargas do palor da Morte.
Cruz e Souza
Lembranças Apagadas
Outros, mais do que o meu, finos olfatos,
Sintam aquele aroma estranho e belo
Que tu, ó Lírio lânguido, singelo,
Guardaste nos teus íntimos recatos.
Que outros se lembrem dos sutis e exatos
Traços, que hoje não lembro e não revelo
E se recordem, com profundo anelo,
Da tua voz de siderais contatos...
Mas eu, para lembrar mortos encantos,
Rosas murchas de graças e quebrantos,
Linhas, perfil e tanta dor saudosa,
Tanto martírio, tanta mágoa e pena,
Precisaria de uma luz serene,
De uma luz imortal maravilhosa!...
Cruz e Souza
sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011
Adolescência
O toque e bater da porta não engana,
És tu a chegar…. Pois por ti espero.
Acalmo o anseio, acaba o desespero,
Já posso despir o receio que me insana.
Mas eis que chegas todo alvoroçado…
Buscando apaziguamento prá minha zanga,
Disfarço, finjo que acredito na tua tanga,
Suspiras…, o teu semblante, fica aliviado.
Deixo-te de novo partir… (sei que voltas).
Fico tranquila, a deslindar, a teia da patranha,
Lembro da minha adolescência, a rebeldia,
Recordando aventuras ou páginas soltas.
Constato, que o ciclo é uma montanha,
Parece que nada mudou, mas tudo se reinicia!
Olinda Ribeiro
quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011
Folha de papel
Simples e singela é esta folha branca,
Rectangular e demasiado vazia,
Mas tem muito do que a vista não abarca…
Pode ser tristeza, ou então alegria !
Um pedaço de papel que nada contém,
No entanto, tudo pode vir a conter.
Poderá ele ser tratado com desdém,
Dar-me alegria para que possa viver.
Tudo irá depender de como o inundo,
Nas palavras que nele eu vou escrever,
Naquilo em que se poderá transformar.
Todos os meus sonhos aqui os posso ver,
Ou todas as formas possíveis de amar,
Simples folha, que podes ser o meu mundo !
2011 Vasco de Sousa
Os direitos da imagem pertencem ao seu autor.
A imagem foi retirada aqui.
Dor intensa
Peço-te por um instante mais,
que me aconchegues nos teus braços…
gela-me o som dos teus passos,
partes, não sei porque vais.
Viajas no meu pensamento,
de forma concreta e voraz.
O teu desprezo fútil sagaz,
causa-me dor, é um tormento.
Sabes como é intensa a minha dor?
Porque me dilaceras tanto?
Chacoteias, ris-te do meu clamor.
Saberás o gosto do meu pranto,
Quando amares alguém como te amo.
E um só olhar, for para ti um bálsamo.
Olinda Ribeiro
Olhar suspenso de um gesto
Olhar suspenso de um gesto,
Vagueando perdida por ruelas,
Busco-te em cada beco,
E não encontro saída,
Nem placas de informação.
Altiva renego o que sinto,
Saudades matam e moem,
Lágrimas luzentes,
Infestam-me os olhos,
Nas sombras da escuridão.
Já não me aparto da dor,
Esqueço por completo,
A lógica da loucura,
Que amar é ser insano,
E ignorar o factor razão.
Mas quem de amor padecer,
Tem doença sem esperança,
Que esse mal só alastra,
Derruba o mais resistente,
E corrói o coração.
Mas quem pode resistir,
Se o amor é como a água,
Sem ela não há vida,
Sem amor,
Não há paixão.
Olinda Ribeiro
Esclareço
Começo, recomeço, entorpeço,
Enlouqueço, desvaneço, esqueço,
Desapareço, embruteço, desfaleço,
Empalideço, arrefeço, anoiteço.
Desconheço, enfraqueço, esmoreço,
Estupideço, escarneço, esvaneço,
Estremeço, entonteço, estarreço,
Envelheço, entardeço, enrudeço.
Começo, recomeço, fortaleço,
Esclareço, amanheço, apeteço,
Compadeço, amadureço, alvoreço.
Recomeço, começo, apreço,
Apareço, embeveço, engrandeço,
Enobreço, agradeço. Aconteço!
Olinda Ribeiro
Nesse mar que é só teu
Nesse mar que é só teu,
atrevo-me a navegar,
atiro conchas pró céu
para me poder guiar.
Como sou aventureira,
não me deixo intimidar,
e cá arranjo maneira,
de lá poder navegar.
Lanço redes de esperança,
e fico à tua espera,
que a pesca é como uma dança,
ou prelúdio de primavera.
Minha barca é o sonho,
meu leme é a tua mão,
com a alma componho,
grandes velas de cartão.
Lembro-me continuamente,
que o mar é vasto e profundo,
como quem ensandeceu,
navego sempre prá frente,
navego e conquisto o mundo,
Nesse mar que é só teu!
Tal e qual uma sereia,
deslumbro-te nesse teu mar,
e como quem sonha sou eu,
neste mar que me rodeia,
não me deixo intimidar,
porque agora o mar é meu!
Olinda Ribeiro
quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011
Nem sei o que dizer … …
Tantos elogios! Por esta não esperava eu!
Ainda estou incrédula! Parece ficção!
Um conto de fadas! Um enorme apogeu!
Um aplauso arrebatado de emoção!
Agradeço aos leitores gentis, e amigos,
Por me favorecerem com tamanha cortesia,
A todos vós por serem os meus abrigos,
Onde guardo a minha simples poesia.
Não tenho outra forma de agradecer,
Pois já vos dou o que de melhor possuo.
Amor incondicional sem nada esconder,
E convosco partilhar o dom que usufruo.
Quero tanto, e gostaria, nomeá-los um a um!
Para não me esquecer de ninguém…
São todos tão importantes para mim!
Feliz por compartir uma paixão comum.
Sei que não existe neste mundo maior bem,
Que é fazermos na vida de partilha um festim!
Olinda Ribeiro
Uma poesia de agradecimento a todos os que acompanham com gosto os seus versos
terça-feira, 1 de fevereiro de 2011
Divina
Eu não busco saber o inevitável
Das espirais da tua vi matéria.
Não quero cogitar da paz funérea
Que envolve todo o ser inconsolável.
Bem sei que no teu circulo maleável
De vida transitória e mágoa seria
Há manchas dessa orgânica miséria
Do mundo contingente , imponderável .
Mas o que eu amo no teu ser obscuro
E o evangélico mistério puro
Do sacrifício que te torna heroína.
São certos raios da tu'alma ansiosa
E certa luz misericordiosa,
E certa auréola que te fez divina!
Cruz e Souza
Suspiros e Ais
Andando pelos “Ais” do coração,
Descubro um suspiro, um batimento.
Naturalmente, evoluo pela interacção,
Da união entre lei da física e sentimento.
Por circunstâncias bem conhecidas,
Afino o beneplácito entre amor e paixão.
Viajo por sensações de emoções sustidas,
E gozo o prazer doce de cada reacção.
Serei talvez uma incurável romântica,
Mas até aprecio este modo de estar,
Tem tudo a ver comigo. Identifica-me.
É curioso não conjugar a semântica,
Confinando a estrofe do verbo amar,
A tudo o que me preenche e vivifica.
Olinda Ribeiro
Um outro soneto enviado para publicação