Ficou o mundo para mim, ensurdecedor,
Não suportarei mais alguém me magoar !
Afogado no meu sofrimento e dor,
Poderei proteger-me, se me isolar.
Para todo o sempre, fecho-me no meu mundo,
Não mais eu comunicarei com alguém.
Ficarei escondido no canto mais fundo !
O que me importa que me olhem com desdém...
Assim protegido, terei força e coragem,
Defender-me-ei de todas as agressões,
Considerar-me um fraco, não voltarão.
Fechado no meu cérebro, fico à margem,
Um caminho livre, sem mais confusões,
Estou livre como nunca, na minha prisão !
2008 Vasco de Sousa
Os direitos da imagem pertencem ao seu autor.
O original encontra-se aqui.
quinta-feira, 30 de outubro de 2008
Mundo interior
terça-feira, 28 de outubro de 2008
O grito da morte (II)
Louco, grito agora em fúria, aterrorizado !
Sabendo que partiu uma grande paixão.
Em mágoa e dor me vejo agora afogado,
Sinto uma faca cortante no coração.
Demente grito em grande e louca aflição !
Gélida face de horror, irreconhecível.
Aos poucos pára de bater o coração,
Numa interminável agonia terrível !
E vencido, caio finalmente por terra,
Perdido nesta solidão que me aterra,
Para que não mais me volte a levantar !
Eu sei que ouviste este meu grito da morte !
Ó mulher, a paixão de minha pouca sorte !
Que me deixaste aqui para sempre a gritar...
2008 Vasco de Sousa
(adaptação de uma versão original de 1991)
Os direitos da imagem pertencem ao seu autor.
O original foi retirado aqui.
O meu Mundo de cristal
Naquele dia, quando de mim te afastaste,
O meu mundo partiu-se tal como um cristal.
Dia após dia, numa procura constante,
Procuro eu, mas em vão, razão que explique tal.
Nada disseste, nem uma carta deixaste,
Foi tudo uma surpresa completa para mim.
Fria e indiferente, tu então partiste,
Deixando-me aqui numa angústia sem fim.
Não irás fazer tu com que páre o meu mundo !
Pois sinto-me de consciência tranquila.
O meu destino traçado irei seguir.
Não entrarei por esse buraco profundo,
Não me afogarei em Whisky e Tequila.
Do meu destino, não me farás desistir.
2008 Vasco de Sousa
Os direitos da imagem pertencem ao seu autor.
O original pode ser encontrado (e comprado...) aqui.
sexta-feira, 24 de outubro de 2008
Meu Portugal
Meu Portugal querido,minha terra
De risos e quimeras e canções
Tens dentro em ti,esse teu peito encerra,
Tudo que faz bater os corações !
Tens o fado. A Canção triste e bendita
Que todos cantam pela vida fora;
O fado que dá vida e que palpita
Na calma da guitarra onde mora !
Tu tens também a embriaguês suave
Dos campos, da pisagem ao sol poente,
E esse sol é como um canto d’ave
Que expira à beira-mar, suavemente…
Tu tens, ó Pátria minha, as raparigas
Mais fescas, mais gentis do orbe imenso,
Tens os beijos, os risos, as cantigas
De seus lábios de sangue !… Às vezes, penso
Que tu és, Pátria minha,branca fada
Boa e linda que Deus sonhou um dia,
Para lançar no mundo,ó Pátria amada
A beleza eterna, a arte, a poesia !…
Florbela Espanca in Trocando Olhares (1916)
quinta-feira, 23 de outubro de 2008
Versos
Versos! Versos! Sei lá o que são versos…
Pedaços de sorriso, branca espuma,
Gargalhadas de luz. cantos dispersos,
Ou pétalas que caem uma a uma.
Versos!… Sei lá! Um verso é teu olhar,
Um verso é teu sorriso e os de Dante
Eram o seu amor a soluçar
Aos pés da sua estremecida amante!
Meus versos!… Sei eu lá também que são…
Sei lá! Sei lá!… Meu pobre coração
Partido em mil pedaços são talvez…
Versos! Versos! Sei lá o que são versos..
Meus soluços de dor que andam dispersos
Por este grande amor em que não crês!…
Florbela Espanca in Trocando Olhares (1916)
domingo, 19 de outubro de 2008
Magro, de olhos azuis, carão moreno
Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, meão na altura,
Triste de facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio, e não pequeno:
Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura,
Bebendo em níveas mãos por taça escura
De zelos infernais letal veneno:
Devoto incensador de mil deidades,
(Digo de moças mil) num só momento
Inimigo de hipócritas, e frades:
Eis Bocage, em quem luz algum talento:
Saíram dele mesmo estas verdades
Num dia, em que se achou cagando ao vento.
Manuel Maria du Bocage
Auto-retrato, na sua versão original. Na versão publicada em vida do poeta (1804), os versos 11 e 14 são: "E somente no altar amando os frades" e "Num dia em que se achou mais pachorrento".
sábado, 18 de outubro de 2008
Entre Sombras
Vem ás vezes sentar-se ao pé de mim
— A noite desce, desfolhando as rosas
—Vem ter commigo, ás horas duvidosas,
Uma visão, com azas de setim...
Pousa de leve a delicada mão
— Rescende amena a noite socegada
—Pousa a mão compassiva e perfumada
Sobre o meu dolorido coração...
E diz-me essa visão compadecida
— Ha suspiros no espaço vaporoso
—Diz-me: Porque é que choras silencioso?
Porque é tão erma e triste a tua vida?
Vem commigo! Embalado nos meus braços
— Na noite funda ha um silencio santo
—N'um sonho feito só de luz e encanto
Transporás a dormir esses espaços...
Porque eu habito a região distante
— A noite exhala uma doçura infinda
—Onde ainda se crê e se ama ainda,
Onde uma aurora igual brilha constante...
Habito ali, e tu virás commigo
— Palpita a noite n'um clarão que offusca
—Porque eu venho de longe, em tua busca,
Trazer-te paz e alivio, pobre amigo...
Assim me fala essa visão nocturna
— No vago espaço ha vozes dolorosas
—São as suas palavras carinhosas
Agua correndo em crystalina urna...
Mas eu escuto-a immovel, somnolento
— A noite verte um desconsolo immenso
—Sinto nos membros como um chumbo denso,
E mudo e tenebroso o pensamento...
Fito-a, n'um pasmo doloroso absorto
— A noite é erma como campa enorme
—Fito-a com olhos turvos de quem dorme
E respondo: Bem sabes que estou morto!
Antero de Quental
sexta-feira, 17 de outubro de 2008
Viagem pelo Universo
Amanhã vou embarcar numa viagem,
Na minha reluzente nave espacial,
Parto com destino a uma miragem,
Nesta minha grande demanda irreal.
Seguirei até ao fim do Universo,
Visitarei as estrelas e planetas,
Tudo o que no espaço se encontra disperso,
Os corpos pequenos e as grandes vedetas.
Atravessarei pelos buracos negros,
Gigantes, anãs e também nebulosas,
Mil brilhantes galáxias conhecerei.
Enxames e superenxames escuros,
Quasares e supernovas fabulosas,
Outra constelação no céu, por fim serei !
2008 Vasco de Sousa
quinta-feira, 16 de outubro de 2008
Choro no meu silêncio
Todos os dias, pergunto-me onde estás,
Porque a saudade é muita, é demais !
Procuro ocupar-me um pouco mais,
E assim deixar este vazio para trás.
Sem ti, pouca coisa faz algum sentido,
As horas do meu dia respiram mau estar,
Dor mortal de saber que não vais voltar,
Como uma faca num coração sofrido.
Choro hoje no meu silêncio, por ti,
Em lágrimas, manifesto o meu amor,
Demonstrando o que nunca te pude dizer.
O grande pesadelo de viver aqui,
Vai sempre crescendo com este meu temor,
De sem ti, não conseguir mais viver.
2008 Vasco de Sousa.
Os direitos da imagem pertencem ao seu autor.
A imagem foi retirada de dancadelagrimas.blogspot.com.
quarta-feira, 15 de outubro de 2008
Nevoeiro cerrado
Esta névoa que me cerca é cerrada,
Um denso frio apodera-se de mim,
Em desespero, sinto a alma molhada,
O meu corpo, num lento torpor sem fim.
Estou perdido, não sei para onde vou,
O caminho é complexo e sombrio.
Alienado, já mal sei aonde estou,
Apenas sinto este maldito frio.
A minha vida está numa encruzilhada,
Ficarei, ou então tenho que prosseguir,
Pois esta névoa não se irá dissipar !
Mas o tempo prepara uma cilada,
Pois por mim, nunca irá ele decidir,
Farol que me guie, terei que procurar.
2008 Vasco de Sousa
Os direitos da imagem pertencem ao seu autor.
A imagem encontra-se aqui.
terça-feira, 14 de outubro de 2008
Águas cristalinas do rio
Água cristalina que corres no rio,
Embalam-me teus suaves cânticos,
Quando serpenteias em curvas a fio,
Por entre seixos brilhantes e polidos.
Esse teu sussurro eterno e doce
hipnotiza-me ! Fecho os olhos devagar...
Deixo-me ir, como se flutuando fosse,
E sinto-me como se estivesse a sonhar.
A tua transparência é amizade,
O teu brilho é para mim a verdade,
Envolves-me numa doce fantasia,
Tu alimentas a minha grande paixão.
2008 Vasco de Sousa
segunda-feira, 13 de outubro de 2008
Noite escura
Esta noite escura e solitária,
Que com o seu silêncio me ensurdece,
É para mim madrasta! Não se compadece,
Com esta minha falta de alegria.
Imensa escuridão que me provoca dor,
Deixa-me assustado, agonizante,
Um vento de arrepio, forte e cortante,
Um pouco de náusea pelo fétido odor.
Tremo fraco e assustado no meu canto,
Tenho medo! Choro convulsivamente.
Já não sei onde me poderei esconder.
Agora ouço a chuva no seu lamento,
Trovões ecoam assustadoramente,
Ausência de um amor que me deixa a sofrer!
2008 Vasco de Sousa
Os direitos da imagem pertencem ao seu autor.
O original encontra-se aqui.
sábado, 11 de outubro de 2008
Nem que viva mais cem anos
Os meus dias agora correm devagar,
Como se nada houvesse pra fazer.
A expressão de ver o mundo terminar,
A impotência de já não saber viver.
Foste a razão deste meu desnorteio,
Quando repentinamente te afastaste.
Fria, distante, sem qualquer devaneio,
Mal saberás que o meu coração quebraste.
Crueldade que me deixou magoado,
Sofrendo por todos os teus enganos,
E sentindo essa dor como a última.
Pela tristeza e desgosto torturado,
Nem que eu viva por mais uns cem anos,
Não chorarei nem mais uma lágrima.
2008 Vasco de Sousa
Os direitos da imagem pertencem ao seu autor. Foi encontrada aqui.
segunda-feira, 6 de outubro de 2008
Embriaguez literária
Torpor, suor, tontura e bebedeira,
Alegria, loucura, amor e paixão.
Euforia, cólica e caganeira,
Ódio, frieza, raiva, rancor, solidão.
Ânsia, revolta, desespero, morte,
Ressaca, vómito, arrependimento,
Tristeza, mágoa, vergonha e má sorte,
Dor, angústia, amargura, sofrimento.
Ambição, alento, desejo, anseio,
Prazer, deleite, calor e exultação.
Expectativa, fé, gosto, confiança.
Sonho, fantasia, ficção, devaneio,
Delírio, meditação, alucinação,
Alento, remorso, sopro, esperança.
2008 Vasco de Sousa
quarta-feira, 1 de outubro de 2008
O corrupio louco dos ponteiros
Este corrupio louco dos ponteiros,
Que nos faz cedo levantar, depois correr,
Ousa relembrar horários certeiros,
Que por vezes tanto queremos esquecer.
Num acto impensado e corajoso,
Desliguei esse maldito instrumento,
Ali fiquei, deitado e preguiçoso,
Esquecendo qualquer possível lamento.
Parti, leve, em busca da felicidade,
Relevando esse diário tormento,
Que me privaria do êxtase total.
E relegara a responsabilidade,
Querendo viver apenas o momento,
Sem perceber eu, que isso seria fatal.
2008 Vasco de Sousa
Os direitos da imagem pertencem ao seu autor.