quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Soneto 9

Voa a Lília gentil meu pensamento
Nas asas de esperanças sequiosas;
Amor, à frente de ilusões ditosas,
O chama e lhe acelera o movimento.

Ígneo desejo audaz, que em mim sustento,
Mancha o puro candor das mãos mimosas,
Os olhos cor dos céus, a tez de rosas,
E o mais, onde a ventura é um momento.

Eis que pesada voz, terrível grito
Soa em minha alma, o coração me oprime,
E austero me recorda a lei e o rito.

Devo abafar-te, amor, paixão sublime?
Ah! Se amar como eu amo é um delito
Lília formosa aformoseia o crime.

Bocage in «Obra Completa Volume I - Sonetos», Ed. Caixotim

0 comentários: