quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Soneto 65

Se ao bronze, à pedra, ao solo, ao mar ingente,
Lhes vem a Morte o seu poder impor,
Como a beleza lhe faria frente
Se não possui mais forças que uma flor?

Com um hálito de mel pode o verão
Vencer o assédio pertinaz dos dias,
Quando infensas ao Tempo nem serão
As portas de aço e as ínvias penedias?

Atroz meditação! como esconder
Da arca do Tempo a jóia preferida?
Que mão lhe pode os ágeis pés deter?

Quem não lhe sofre o espólio nesta vida?
Nada! a não ser que a graça se consinta
De que viva este amor na negra tinta.

William Shakespeare - Tradução de Ivo Barroso

0 comentários: