quarta-feira, 6 de abril de 2011

Naquelas águas que serpenteiam o monte

Naquelas águas que serpenteiam o monte,
Dum riacho que corre lento, para o mar,
Caem sofridas lágrimas da minha fronte,
Pingando ritmadas, com o meu soluçar.

Já não posso esconder mais dentro de mim,
A dor que me dilacera o coração,
Já não suporto mais ter de viver assim,
Apartado em imensa escuridão.

É por ti, que já não me desejas mais,
Que estou num desassossego tão grande.
Dói-me a alma, dispara-me a pulsação,

Tão grande sofrimento, porque não me amais,
Um nó feito de tormentos, que me prende.
Só quero apenas chorar, prostrado no chão.

2011 Vasco de Sousa

10 comentários:

Olinda Ribeiro disse...

Prezado Poeta

Estes dois sonetos são lindíssimos mas têm um estado de alma acentuadamente diferentes, parecem distantes cronologicamente.
Será que foram escritos em fases distintas?

Um abraço

Olinda Ribeiro

Vasco de Sousa disse...

Prezada poetiza
O comentário é muito pertinente e mostra que está sempre atenta.
Curiosamente foram ambos escritos, um a seguir ao outro. São intensionalmente opostos, para mostrar que é possível escrever e descrever sentimentos, que podem ou não estar a ser vividos no momento. Também é possível, acredito eu, introduzir alguma ficção na poesia. Quando escrevemos somos apenas limitados pela nossa imaginação.
Alguns leitores poderão pensar que apenas escrevemos o que sentimos, mas eu gosto de pensar que escrevo o que me apetece, e se falo na morte ou na escuridão, não quer dizer que estou deprimido, se falo no amor pode não querer dizer que estou apaixonado, ou talvez sim...
Talvez por isso o soneto do dia anterior, onde uma das várias mensagens pode ser "não me poderás conhecer apenas pelo que escrevo".
A dúvida irá ficar no ar.
Claro está que também escrevo alguns sonetos muito sentidos e muito especiais para mim ou para quem são dirigidos.
Escrever sobre o que sentimos no momento é muito mais fácil, mas também é um desafio pensar num tema ao acaso e tentar desenvolver e estruturar o soneto.
Um abraço

Vasco de Sousa

Alberta Góis disse...

Muito comovente Vasquinho aqui sinto que se entregou sem rodeios, apesar da dor reconheço-lhe o estilo muito seu.

Alberta Góis

José Manuel Antunes disse...

Boa noite Vasco de Sousa,

pelo seu esclarecimento fiquei a perceber que aplica na poesia a ficção
que normalmente encontramos noutro género de literatura, sempre pensei e continuo a pensar que a poesia é uma forma de escrita mais intima, mais espontânea, e mais realista no contexto do que estamos a sentir e da necessidade de pôr por escrito esses mesmos sentimentos.
De qualquer modo os sonetos estão muito bons, acredito que podemos ter vários estados de espírito sem grandes intervalos de tempo.


J. M. Antunes

Antónia Matos Neves disse...

Os opostos atraem-se é perfeitamente verosímil sentir várias coisas ao mesmo tempo. Apesar de mais taciturno este soneto também está muito bom.

Antónia matos Neves

Gil Alves Macedo disse...

Este Poeta tem muita coisa guardada dentro do peito, (aliás melhor dizendo todos temos), expressa muito bem a sua inconstância, e até o seu lado mais obscuro, mas não deixa de ser um soneto muito bom.


Gil Alves Macedo

Jorge Cardoso Vasconcellos disse...

Sr. Vasco de Sousa

Se não se sente assim agora, de certeza absoluta que já sentiu, pois não poderia descrever algo só por suposta imaginação, exceptuando outros géneros literários onde se criam personagens e aí sim se inventa tudo, mas não me parece que seja o caso. Acho muito bem que escreva como lhe apetece, de outra forma nem faria sentido nenhum.
Escrever só por escrever... não me parece o seu género.
Este espaço transpira muito boa energia, pelo que aqui não tem cabimento falsidades. Portanto seja lá qual for a razão, a verdade nua e crua é que Vasco de Sousa É muito genuíno na sua poesia.


Jorge Vasconcellos

Vasco de Sousa disse...

Sr. Jorge Vasconcellos:
Tenho de concordar consigo, quando diz que temos de ter já vivido determinadas experiências para as saber descrever.
Quando falava em ficção era um pouco nesse sentido de que podemos descrever sentimentos que não sentimos actualmente. Tal como a maior parte dos romances de ficção que são baseados em factos verdadeiros.
Grato pelos seus comentários, sempre oportunos.

Vasco de Sousa

João disse...

Tanta tristeza não faz nada bem nem há mente nem ao corpo, arranje alguém que o possa ajudar a ultrapassar esses
momentos tão sombrios, dê umas caminhadas, apanhe um bocado de sol,
ou simplesmente faça uma soneca.


João

Joana Fernandes disse...

Muito triste... mas gosto

Joana Fernandes