Na insanidade de um mundo doente,
Uma tontura apropria-se de mim,
Vence as minhas forças ! Já perto do fim,
Um colapso que domina a minha mente.
Suores frios que me passam pelo rosto,
Um calor no estômago. Incontrolável !
A vida escoa-se, é inevitável,
Como que uma perda, como um desgosto.
Dores de um organismo que desfalece,
A vida escapa-se por entre os dedos,
Sufocado em silêncio tento gritar !
A dor é tamanha que já me adormece,
Sofro, incapaz de vencer os meus medos,
Só a morte me conseguirá libertar.
2009 Vasco de Sousa
Os direitos da imagem pertencem ao seu autor. O original encontra-se aqui.
quinta-feira, 30 de abril de 2009
Uma vida que se esgota
terça-feira, 28 de abril de 2009
Porque choram esses lindos olhos castanhos ?
Porque choram os teus lindos olhos castanhos ?
O que te falta, que eu não te posso dar ?
Diz-me ! Já não consigo mais ver-te chorar.
Teus sentimentos são para mim estranhos.
Ao longo dos anos fomo-nos afastando,
Os problemas ocuparam nosso altar,
Apesar de tudo, não deixo de te amar,
Mesmo que em ruínas esteja meu mundo.
Dores de um organismo que desfalece,
O ruir de um sentimento já antigo,
Um caos total anárquico, um escombro.
Como deixámos que isto acontecesse ?
Tuas lágrimas quero partilhar contigo,
Podes chorar em silêncio no meu ombro.
2009 Vasco de Sousa
quinta-feira, 23 de abril de 2009
Doce abismo
Coração, coração! a suavidade,
Toda a doçura do teu nome santo
É como um cálix de falerno e pranto,
De sangue, de luar e de saudade.
Como um beijo de mágoa e de ansiedade,
Como um terno crepúsculo d'encanto,
Como uma sombra de celeste manto,
Um soluço subindo a Eternidade.
Como um sudário de Jesus magoado,
Lividamente morto, desolado,
Nas auréolas das flores da amargura.
Coração, coração! onda chorosa,
Sinfonia gemente, dolorosa,
Acerba e melancólica doçura.
Cruz e Souza
terça-feira, 14 de abril de 2009
Teu nome
É bálsamo de amor que os lábios suaviza
É cântico do céu... encanta, atrai, consola,
Essência lirial que para Deus se evola,
É hino de esperança e as dores ameniza.
Maria! Ao repetir teu nome se matiza
De bençãos meu viver que a dor cruel.
Doce réstia de luz, confortadora esmola
Da graça e do perdão que as almas sublimiza.
Permite, oh! Mãe bondosa, oh! Virgem sacrossanta
De teu nome ideal que a melodia santa,
Vibrando dentro em mim as horas de amargura,
Seja a nota eteral, a nota harmoniosa
Que minha alma murmure, a te fitar ansiosa,
Estrela que nos guia à pátria da ventura!
Francisca Clotilde in A Estrella (1915)
quinta-feira, 9 de abril de 2009
O ar quente do campo
Este ar quente do campo, em minha volta,
Sossega a alma, alegra a passarada,
De lado ficam sentimentos de revolta,
A vida promete-se mais animada.
Como que embaladas, as folhas dançam,
Com passos deliciosos e suaves,
Em semelhante ritmo, os anos avançam,
Em boa velocidade, sem entraves.
Uma vereda ali no verde se recorta,
Num caminho comprido e sinuoso,
Como que desaparece no horizonte.
O meu destino já pouco me importa,
Mesmo que o percurso seja tortuoso,
Adormeço em paz aqui no sopé do monte.
2009 Vasco de Sousa
terça-feira, 7 de abril de 2009
Triunfo supremo
Quem anda pelas lágrimas perdido,
Sonâmbulo dos trágicos flagelos,
É quem deixou para sempre esquecido
O mundo e os fúteis ouropéis mais belos!
É quem ficou no mundo redimido,
Expurgado dos vícios mais singelos
E disse a tudo o adeus indefinido
E desprendeu-se dos carnais anelos!
É quem entrou por todas as batalhas
As mãos e os pés e o flanco ensangüentado,
Amortalhado em todas as mortalhas.
Quem florestas e mares foi rasgando
E entre raios, pedradas e metralhas,
Ficou gemendo mas ficou sonhando!
Cruz e Souza
segunda-feira, 6 de abril de 2009
Assim seja!
Fecha os olhos e morre calmamente!
Morre sereno do Sever cumprido!
Nem o mais leve, nem um só gemido
Traia, sequer, o teu Sentir latente.
Morre com alma leal, clarividente,
Da crença errando no Vergel florido
E o Pensamento pelos céus, brandido
Como um gládio soberbo e refulgente.
Vai abrindo sacrário por sacrário
Do teu sonho no Templo imaginário,
Na hora glacial da negra Morte imensa...
Morre com o teu Dever! Na alta confiança
De quem triunfou e sabe que descansa
Desdenhando de toda a Recompensa!
Cruz e Souza
domingo, 5 de abril de 2009
Renascimento
A Alma não fica inteiramente morta!
Vagas Ressurreições do Sentimento
Abrem já, devagar, porta por porta,
Os palácios reais do Encantamento!
Morrer! Findar! Desfalecer! que importa
Para o secreto e fundo movimento
Que a alma transporta, sublimiza e exorta,
Ao grande Bem do grande Pensamento!
Chamas novas e belas vão raiando,
Vão se acendendo os límpidos altares
E as almas vão sorrindo e vão orando...
E pela curva dos longínquos ares
Ei-las que vêm, como o imprevisto bando
Dos albatrozes dos estranhos mares...
Cruz e Souza
sábado, 4 de abril de 2009
Pacto das Almas (III) Alma da Almas
Alma da almas, minha irmã gloriosa,
Divina irradiação do Sentimento,
Quando estarás no azul Deslumbramento,
Perto de mim, na grande Paz radiosa?!
Tu que és a lua da Mansão de rosa
Da Graça e do supremo Encantamento,
O círio astral do augusto Pensamento
Velando eternamente a Fé chorosa,
Alma das almas, meu consolo amigo,
Seio celeste, sacrossanto abrigo,
Serena e constelada imensidade,
Entre os teus beijos de eteral carícia,
Sorrindo e soluçando de delícia,
Quando te abraçarei na Eternidade?!
Cruz e Souza
sexta-feira, 3 de abril de 2009
Pacto das Almas (II) Longe de tudo
É livre, livre desta vã matéria,
Longe, nos claros astros peregrinos
Que havereemos de encontrar os dons divinos
E a grande paz, a grande paz sidérea.
Cá nesta humana e trágica miséria,
Nestes surdos abismos assassinos
Termos de colher de atros destinos
A flor apodrecida e deletéria.
O baixo mundo que troveja e brama
Só nos mostra a caveira e só a lama,
Ah! só a lama e movimentos lassos...
Mas as almas irmãs, almas perfeitas,
Hão de trocar, nas Regiões eleitas,
Largos, profundos, imortais abraços!
Cruz e Souza
quinta-feira, 2 de abril de 2009
Pacto das Almas (I) Para Sempre!
Ah! para sempre! para sempre! Agora
Não nos separaremos nem um dia...
Nunca mais, nunca mais, nesta harmoia
Das nossas almas de divina aurora.
A voz do céu pode vibrar sonora
Ou do Inferno a sinistra sinfonia,
Que num fundo de astral melancolia
Minh'alma com a tu'alma goza e chora.
Para sempre está feito o augusto pacto!
Cegos serenos do celeste tacto,
Do Sonho envoltas na estrelada rede.
E perdidas, perdidas no Infinito
As nossas almas, no Clarão bendito,
Hão de enfim saciar toda esta sede...
Cruz e Souza