sexta-feira, 19 de junho de 2015

Lado a lado sem rumo

Não te iludas nesse complexo da solidão
Vem e deita-te a meu lado
Entrelaçamos as mãos
Embarcamos os dois no mesmo sonho e navegamos rumo ao largo
No marulhar das almofadas e da respiração ofegante
Adormeçamos vis-a-vis com o balancear das ilusões
Entrelaçadas que estão as marés das nossas complexadas solidões
Aspiramos das almofadas os odores das nossas histórias passadas
Navegamos  na jangada das emoções
no largo dos sentidos sem rumo
de mãos entrelaçadas
deitados lado a lado
embarcamos
e num só sono
respiramos a partilha da comum solidão

Olinda Ribeiro
19 de Junho de 2015

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Poesia a duas mãos

Quando afio o lápis ou apronto a caneta
É um secreto e intenso desejo de soltar a palavra interna
Pro plano escrito visualizando da mente atenta
A saudosa poesia desenhada e terna

Abrir a torneira das deliciosas frases rimadas ou não
Mas cheias de sentimento, de odor a sangue correndo nas veias,
De fragrâncias palpitantes adocicadas ou cítricas corajosas… coração
Sim coração palpitante e sonhador sonhando batendo frases cheias

Vem junta-te a mim, vamos juntos escrever palavras soltas e belas
As que guardas dentro de ti e as que juntos soltamos formando poemas
E os dois geramos poesia e flores, sim flores de poesias nas desdobradas velas
Que o vento é bom velejador e leva-as longe bem longe…bem longe das nossas penas

Estende-me a tua mão … ofereço-te a minha caneta,
Fico com o meu já muito velhinho e gasto lápis de carvão,
E enquanto escreves cartas à nau Catrineta
Eu quedo-me a afiar o lápis… nos contornos das aparas… a minha solidão

Olinda Ribeiro
25 de Fevereiro de 2015

domingo, 22 de fevereiro de 2015

Poeta louca

Todos os poetas são poucos
os poemas alegorias
ai façam das longas e mórbidas noites
doces e ternos dias
poesia…   poesia, 
 oh palavras bem casadas
mosto sonho emoções sentimentos…
 tudo o que sentis … 
sentis no ventre da poesia…. Minha vida tão vazia
sinto-me perdida e estranha
todos os poemas são meus
foi para mim que os escreveste
igualando a dor tamanha
à maior felicidade dos céus
….
Como posso sequer ousar escrever um poema?
Se vós oh grandiosos poetas já tudo escreveste
Já tudo disseste e tudo é tão pouco pois sois imortais
eu? quem sou eu afinal?
Tudo transportais para o poema
A minha alma a minha essência 
A minha virtude e pobre de mim
Também o meu descontentamento

Estranho …. como podeis escrever assim?
Como se vós mesmos me tivésseis criado!
Mas se não sois nem meu pai nem minha mãe
Não me geraste as entranhas não me procriaste na dor tamanha
Como escreveste a poesia que é minha?
Dizei-me poetas vivos e poetas mortos
Dizei-me poetas que ainda não nasceram
Como escreveste todos vós a minha poesia?
Todas as palavras são minhas todos os dizeres  são meus
Tudo o que sentis eu escrevia
Mas só os vossos poemas são meus!

Estarei louca??? mas louca eu?
Sim! Sim!...  a loucura é a verdade nua
Sem floreados ou rendilhados
Sem parecer bem ou bem parecer
Sem essas mentiras de ocasião
Esmeradas na prontidão como se apresentam.

Mas voltemos à poesia,
Que não quero que penseis
Que me esqueci que do nada ou do tudo que senti
Desatando o efémero da vida que vivo e vivi
Me esqueço do mais importante
Esse tão inóspito e débil instante
Em que toda a vossa poesia
Em mim inventada recriada e parida
É a história da história em que morri
Por não conseguir escrever um poema
Qualquer poema….
Que fale da minha eternidade na raia da minha humanidade,
fadistas cantai todos os belos poemas
Que esses eternos poetas escreveram
Pois ao cantá-los pró mundo
Cantais-me a mim
Pois todos os poemas são meus
Acreditai eles os escreveram
Mas todos os poemas são meus!
Todos os vossos poemas são meus
Oh grandes poetas que me cantais a alma!
Vai-se noite
Nasce o dia
Relatos da turbulência …
Finalmente o sono vence
E a minha verdade pura loucura acalma

Olinda Ribeiro
22 de Fevereiro de 2015