quinta-feira, 30 de agosto de 2012

De improviso...

As farpas crivam sentimentos imersos
Nas profundezas das minhas entranhas
Descarnadas em sal moiro e versos
Insolúveis, palavras vagas e estranhas.

Desgostos ventilados a falsas esperanças,
Essas coisas que guardamos no alvor da solidão
E os gastos físicos em prol de mudanças
Maneiradas a gosto mas sem emoção.

(Queria ter amado mais e beijado sem temores
(Sei-me imune às moralidades imorais.)
Desprendida de compromissos e rancores)

Liberta das cercanias e de lobos orvalhosos
Destituída de preconceitos triviais
Seduzida de imprevisto e mistérios gozosos!

2012 Olinda Ribeiro

sábado, 25 de agosto de 2012

Logro

Não me apetece escrever
Só me apetece amorfar incognitamente
Enterrar-me em sequências imaginárias
Malograr os circuitos que me sustêm
Com as letras enfeitar sonhos desfeitos
Atascar-me em bebedeiras infalíveis
Apagar as desilusões
Voltar ao tempo da germinação
Voltar a ser parida
Quem sabe então eu seja eu
E corajosamente me desafie
A ser de novo vossa mãe
Para que me descubram e se sintam meus filhos.
A vida festeja-se
A vida não é uma festa incessante
Lágrimas e risos são ambos preciosos
Mas o logro está em engendrar planos substitutos
E instituí-los como caminhos sem volta
Lamento desiludir a credibilidade do conceito
Mas amo-vos e por vos amar
Recuso-me a ceder a minha integridade
Em nome de falsos ideais.
Em nome do que quer que seja…
A minha integridade
É a razão porque me mantenho  inacessível
Aos construtores da destruição.
Preciso de ser integra
Porque preciso de amar sem algemas e sem grilhetas.
Porque desde os primórdios de mim
O amor por vós foi sempre
O objectivo da minha existência.
Significa que continuarei a dizer não,
Ainda que o preço a pagar
Seja ficar incógnita
Nas batalhas que travei e venci
Porque foi nas vitórias
Que mereci o direito de hastear
A minha bandeira.

2012 Olinda Ribeiro

sábado, 4 de agosto de 2012

Dor ao vento

Ah esses espaços por onde navego
Rumo a teus braços e à saudade mansa
Odorífica primavera no corpo te entrego
Já florida por desejos saciada bonança.

Os nichos caiados de alva bruma
Decorados com o vôo das andorinhas
Atapetados com gotas de orvalho e de espuma
São lar de saudades tuas e de mágoas minhas.

O lenço branco hasteado no soluçado adeus
Não augura para meu coração doces tréguas
Antevejo no sussurro da brisa um furtuito lamento

Clamante, desolado, rubroso. Olho os avermelhados céus,
Abro meu peito ao trote da dor selvagem, lembrando éguas
Parindo potros de loiras crinas e corpos de vento.

2012 Olinda Ribeiro