sábado, 28 de julho de 2012

Dissonância

Toda a poesia que se perde
Por preguiça, incomodo, ou desleixo,
São poemas da alma onde fecho
O “sentir” embrionário e verde.
Tantas coisas tenho para dizer
Porquês de vida querendo resposta
Calamidades internas onde a aposta
É o ego soltar a opressão que me faz sofrer.

Não deixar os tumultos internos prevalecer
É controlar a revolta interna do meu existir.
Mas tudo é errado e incongruente.
E sem que a vontade mande, todo o meu ser
Explodiu em obesidade física e mental, fazendo colidir
A liberdade e o direito ao que a alma sente.

2012 Olinda Ribeiro

sexta-feira, 20 de julho de 2012

José Hermano Saraiva

Hoje foi um dia como outro dia qualquer…
Bom para nascer, igualmente bom para morrer.
Morre-se anónimo ou famoso… ou indigente….
Morre o asno e o inteligente…
Porém morrer de obra feita é o orgulho de todo o homem!
A história reza que hoje morreu um grande contador de histórias…

Foi um prazer ter conhecido esta alma portuguesa.
Agora o descanso merecido…

2012 Olinda Ribeiro

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Amantes...

A tibieza, o meu orgulho persistente,
Perpetua tua ausência indefinida,
Castra voraz e resistente
Laivos de fúria reprimida.
Contrastam as marés remanescentes,
Com áridas cantorias suspiradas,
E as gotas de suor insipientes,
Emolduram corolárias encristadas.
Afoitam então como algozes
Rugindo mágoas e torturas
Bramindo gritos tão ferozes
Afoguentando breves gestos de ternura.
Havia em mim um ardor tamanho,
Por esse teu ser por mim extasiado,
Cresciam graciosas com engenho
Constelações de amor incendiado.
Brotam agora cristais de gelo refulgente,
De meus olhos opacos e sem viço,
Igualando o orgulho persistente,
Que te desterrou como feitiço.
Nas asas da noite cobrem-me as dores,
Que outrora releguei para o deserto,
E os teus carinhos e fulgores,
Estão longe de mim estando perto.
Tamanhos eram os rios dos nossos beijos,
Coroando tardes de amor acetinadas,
Galgando nossos corpos em cortejos,
De divinas graças alcançadas.
Corria pelo meu corpo a alegria,
E teus olhos floresciam em folguedos,
Nossas almas brilhavam em sintonia,
Comungávamos dos mesmos segredos.
Passámos de gentis a agonizados,
De flores perfumadas a ervas daninhas,
Deixámos o estatuto de apaixonados,
Somos mágoas cravadas com grainhas.
Porém esse teu olhar ainda por mim chama….
E eu ainda oiço o teu clamor…
Ainda tua boca a minha boca reclama,
Ainda suspiras pelo meu amor.
Na surdina da noite nossas mãos entrelaçadas,
Dizem que devemos acreditar em nós…
Que o amor é vagabundo e as ações afleumadas,
São só surtos dispares aos quais damos voz!
(Se não nos amamos ….
Porque vens tu à minha procura e estou eu à tua espera?
E logo em seguida nos abraçamos…
Murmurando perdões e desculpas pelo que sucedera…)

Amor … um bem que tanto mal perjura … mas sem ele sentimo-nos ocos.

2012 Olinda Ribeiro

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Procura-se

Procura-se mulher da mais rara beleza
Que inspire ao homem todo alento e piedade
Por seus olhares ter a alma envolta e presa
Em seus lábios ter o sabor da eternidade...

Procura-se mulher da mais pura tristeza
Cuja ausência em nós, perpétua de saudade
Crive no peito o bem da última certeza:
Está em vós, mulher, toda necessidade...

Uma mulher do mais tenro, doce carinho
Que tenha o colo como eterno, afável ninho
Mulher na qual o grande amor, cego, persiste

Mas qual dos homens vai por fim lhe merecer?
Buscam você, mulher, mas sem reconhecer:
Homem merecedor do seu amor... Existe?

Abril 2012 Carlos Gomes
Soneto enviado pelo autor, para publicação