Todos os poetas são poucos
os poemas alegorias
ai façam das longas e mórbidas noites
doces e ternos dias
poesia… poesia,
oh palavras bem
casadas
mosto sonho emoções sentimentos…
tudo o que sentis
…
sentis no ventre da poesia…. Minha vida tão vazia
sinto-me perdida e estranha
todos os poemas são meus
foi para mim que os escreveste
igualando a dor tamanha
à maior felicidade dos céus
….
Como posso sequer ousar escrever um poema?
Se vós oh grandiosos poetas já tudo escreveste
Já tudo disseste e tudo é tão pouco pois sois imortais
eu? quem sou eu afinal?
Tudo transportais para o poema
A minha alma a minha essência
A minha virtude e pobre de mim
Também o meu descontentamento
Estranho …. como podeis escrever assim?
Como se vós mesmos me tivésseis criado!
Mas se não sois nem meu pai nem minha mãe
Não me geraste as entranhas não me procriaste na dor tamanha
Como escreveste a poesia que é minha?
Dizei-me poetas vivos e poetas mortos
Dizei-me poetas que ainda não nasceram
Como escreveste todos vós a minha poesia?
Todas as palavras são minhas todos os dizeres são meus
Tudo o que sentis eu escrevia
Mas só os vossos poemas são meus!
Estarei louca??? mas louca eu?
Sim! Sim!... a
loucura é a verdade nua
Sem floreados ou rendilhados
Sem parecer bem ou bem parecer
Sem essas mentiras de ocasião
Esmeradas na prontidão como se apresentam.
Mas voltemos à poesia,
Que não quero que penseis
Que me esqueci que do nada ou do tudo que senti
Desatando o efémero da vida que vivo e vivi
Me esqueço do mais importante
Esse tão inóspito e débil instante
Em que toda a vossa poesia
Em mim inventada recriada e parida
É a história da história em que morri
Por não conseguir escrever um poema
Qualquer poema….
Que fale da minha eternidade na raia da minha humanidade,
fadistas cantai todos os belos poemas
Que esses eternos poetas escreveram
Pois ao cantá-los pró mundo
Cantais-me a mim
Pois todos os poemas são meus
Acreditai eles os escreveram
Mas todos os poemas são meus!
Todos os vossos poemas são meus
Oh grandes poetas que me cantais a alma!
Vai-se noite
Nasce o dia
Relatos da turbulência …
Finalmente o sono vence
E a minha verdade pura loucura acalma
Olinda Ribeiro
22 de Fevereiro de 2015